“Eu tinha tanta certeza que esse dia chegaria e ele chegou”

O primeiro pronunciamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após a anulação de suas condenações foi realizado na manhã desta terça-feira (10) no Sindicato. Em coletiva de imprensa, Lula comemorou a decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin, que na segunda-feira, 8, determinou a anulação de todas as condenações contra ele.

Foto: Adonis Guerra

Antes de responder às perguntas dos jornalistas, Lula criticou com veemência o governo Bolsonaro, Sérgio Moro e lembrou que é preciso cuidar do povo brasileiro e da economia do país.

A atividade foi aberta pelo presidente do Sindicato, Wagner Santana, o Wagnão, que afirmou: “Pra mim é uma honra ser herdeiro dessa história”.

Foto: Adonis Guerra

Confira os principais trechos do pronunciamento de Lula:

Vítima da maior mentira

Como tinha clareza das inverdades contadas sobre mim, tomei a decisão de provar minha inocência. Tinha tanta confiança e tanta consciência do que estava acontecendo no Brasil que tinha certeza que este dia chegaria e ele chegou.

Fui vítima da maior mentira jurídica contada em 500 anos de história. Sei o que minha família passou, que a Marisa morreu.

Se tem um brasileiro que tem razão de ter muitas e profundas mágoas sou eu. Mas eu não tenho. Porque o sofrimento que o povo brasileiro está passando é infinitamente maior que qualquer crime que cometeram contra mim. É maior do que cada dor que eu sentia quando estava preso na Polícia Federal.

Não tem dor maior do que levantar de manhã e não ter a certeza de um café e pãozinho com manteiga, chegar na hora do almoço e não ter um prato de feijão com farinha para dar ao seu filho, não tem dor maior que estar desempregado e não ter salário para sustentar a família.

É essa dor que me faz dizer que a dor que eu sinto não é nada diante da dor que sofrem milhões e milhões de pessoas A dor que eu sinto não é nada perto do que sentem os familiares das quase 270 mil vítimas do coronavírus.

Dia gratificante

Por longos 5 anos, amplos setores da imprensa não exigiram nenhuma veracidade do Moro, dos procuradores e da PF para divulgar as mentiras que eles contavam. Quantas e quantas matérias no principal jornal da televisão apareciam denúncias sem nenhuma prova? Contra o Lula não precisava de documento com seriedade, era preciso destruir o Lula, era preciso evitar que este cidadão voltasse a governar este país.

Foi um dia gratificante, sou agradecido ao ministro Fachin porque ele cumpriu uma coisa que a gente reivindicava desde 2016, decisão que tomou tardiamente. A gente cansou de dizer que a quadrilha de procuradores da Lava Jato e o Moro entendiam que a única forma de me pegar era me levar para a Lava Jato, porque eu já tinha sido liberado em outros processos fora, mas eles tinham como obsessão me criminalizar. Ontem (terça-feira) tivemos Jornal Nacional épico, pela primeira vez a verdade prevaleceu.

É preciso imprensa livre para dizer a verdade nua e crua, não pra dizer politicamente e ideologicamente o que ela quer. A liberdade imprensa é uma das razões maiores pela manutenção da democracia em qualquer lugar do planeta Terra.

Foto: Adonis Guerra

A verdade vai continuar vencendo

Tinha certeza que este dia chegaria. Tô muito tranquilo. Já fui absolvido de todos os processos fora de Curitiba, mas vamos continuar brigando para que Moro seja considerado suspeito. Porque ele não tem o direito de se transformar no maior mentiroso da história do Brasil e ser considerado herói por aqueles que queriam me culpar. Deus de barro não dura muito tempo. Tenho certeza que hoje deve estar sofrendo muito mais do que eu sofri. E eu sabia que não tinha cometido erro.

Tô muito de bem com a vida, a Lava Jato desapareceu da minha vida. Não espero que as pessoas que me acusam parem de me acusar. Tô satisfeito que tenha sido reconhecido aquilo que meus advogados vêm dizendo há muito tempo. Derrubamos 11 ações ao longo de 5 anos. Com Fachin tinham 4 processos e desapareceram. Tô com o semblante tranquilo de que a verdade venceu e de que a verdade vai continuar vencendo.

Tome vacina!

Semana que vem, se Deus quiser, vou tomar a vacina, não importa de que país e quero fazer propaganda pro povo brasileiro. Não siga nenhuma decisão imbecil do presidente da República ou do ministro da Saúde. Tome vacina porque a vacina pode livrar você da Covid. Mesmo tomando vacina, precisa continuar fazendo isolamento, utilizando máscara e álcool gel.

Esse vírus na noite passada matou quase 2 mil pessoas, as mortes estão sendo naturalizadas, mortes que poderiam ser evitadas se o governo tivesse feito o elementar. Se o presidente da República respeitasse o povo brasileiro, a primeira coisa em março passado era criar um comitê de crise e toda semana orientar a sociedade brasileira do que fazer. Era preciso priorizar dinheiro e comprar as vacinas que tivessem que comprar em qualquer lugar do planeta Terra.

País desordenado

Bolsonaro não sabe o que é ser presidente, ele a vida inteira não foi nada. O país está totalmente desordenado e desagregado porque não tem governo. Este país não cuida da economia, do emprego, do salário, da saúde, do meio ambiente, da educação, do jovem, da meninada da periferia. Ou seja, do que eles cuidam?

Há quantos anos vocês não ouvem as palavras crescimento, desenvolvimento, geração de emprego e renda?

A única forma de diminuir a dívida do Brasil não é parar de gastar com o necessário, o que vai fazer diminuir a dívida é o crescimento econômico, o investimento público.

Em 2008 a indústria automobilística vendia 4 milhões de carros por ano no país. Passados 13 anos, vende 2 milhões, hoje é metade do que era em 2008. Porque não há possibilidade de investimento se não houver demanda, tem que ter emprego e renda. Enquanto não tem, tem que ter auxílio emergencial para que as pessoas não morram de fome.

Foto: Adonis Guerra

Povo não precisa de armas

Este país não tem governo, não tem ministro da Saúde, não tem ministro da Economia. Este país tem um fanfarrão, um presidente que por não saber de nada diz ‘é tudo por conta do Guedes’. Enquanto isso, o país está empobrecido, o PIB caiu, a massa salarial caiu, o comércio varejista caiu, a produção de comida está ficando insustentável. E o presidente não se preocupa com isso, está preocupado em vender mais armas.

O povo não precisa de armas, precisa de emprego, salário, livro, educação. O estado precisa estar presente na periferia com educação, cultura, saúde, assistência social. Será que Bolsonaro não leu nada do que a gente fez de que é possível governar diferente? O Brasil não é dele e dos milicianos, é de 230 milhões de pessoas que querem trabalhar, morar, ter lazer. Vocês não sabem como ficava feliz quando trabalhador falava que ia comer picanha e tomar cerveja. Era uma coisa fantástica.

Se o mercado quer que eu distribua arma, não vote em mim, pois vou distribuir livros.

Voltar a andar por este país

Quero dedicar o resto de vida que me sobra, que espero que seja muita, a voltar a andar por este país para conversar com o povo. O povo não pode permitir que um homem que causa os males que Bolsonaro causa continue governando. Não sei o que vamos fazer, mas vamos precisar fazer.

O país precisa voltar a crescer, a sonhar e a ser grande. É pela construção desse sonho e ajudar a torná-lo realidade que me sinto muito jovem pra brigar muito. Desistir jamais!

Não tenham medo

Não tenham medo de mim, eu sou radical porque quero ir à raiz dos problemas deste país, ajudar a construir um mundo justo, mais humano, em que trabalhar e pedir aumento não seja crime, mulher não seja tripudiada por ser mulher, que pessoas não sejam tripudiadas pelo que quiserem ser, que não haja preconceito racial, não tenha mais bala perdida, que o jovem possa transitar livremente, que pessoas sejam felizes pelo que decidirem ser, que possam seguir a religião que acreditar, cada um é o que quer. Este mundo é possível, é plenamente possível.

É por isso que convido vocês a lutar para garantir que todo brasileiro, independentemente da idade, tome vacina. Precisamos fazer o governo, comprar vacina, brigar pelo salário emergencial, por investimento em geração de emprego, sobretudo, a partir de infraestrutura, com política de ajuda a microempresário. O governo existe pra tentar encontrar solução pra essa gente.