Ex-ministro Guido Mantega analisa alta da inflação, vê aumento do desemprego e do empobrecimento no Brasil
Sob governo Bolsonaro, inflação em julho teve maior resultado para o mês desde 2002
O economista Guido Mantega, ministro da Fazenda nos dois mandatos do presidente Lula, conversou com a Tribuna Metalúrgica sobre a alta da inflação que assombra os brasileiros. Ela alcançou 0,96% em julho, maior resultado para o mês desde 2002. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) chegou a 8,99% no acumulado de 12 meses.
Tribuna Metalúrgica – O que tem causado esse processo de elevação de preço?
Guido Mantega – A inflação no Brasil vem subindo já há algum tempo e ela é pressionada por vários fatores. O primeiro fator é o preço da alimentação, que sobe porque tem havido muita exportação de soja, milho, carne, etc., e subiu muito no mercado internacional também. Mas o que está subindo mais aqui na economia brasileira são os preços chamados “preços administrados”, aqueles dos quais o governo tem alguma responsabilidade. Por exemplo, o preço da energia elétrica, porque estamos tendo agora uma seca grande, e o governo não investiu no aumento da oferta de energia elétrica. São quatro, cinco anos que não se fazem investimentos nessa área, depois do governo Dilma não se investiu, aliás não se investiu mais em nada.
TM – Outro grande fator de impacto é o preço dos combustíveis, certo?
Guido Mantega – O aumento da gasolina podia ter sido evitado, gás de cozinha todos os que subiram e são de responsabilidade do governo. Se você olhar o que mais subiu durante o último ano, nos últimos 12 meses, por exemplo, o gás de botijão que subiu 30, 40%, a gasolina subiu 40, 50%. Você tem que pensar o seguinte, a gasolina pressiona o aumento de vários produtos, não só do transporte.
TM – E o IPCA em 8,99% o que significa para o trabalhador?
Guido Mantega – O IPCA em quase 9% significa 9% de corrosão salarial, que o trabalhador está ganhando menos, isso aquele que está empregado. Os alugueis também estão subindo, os serviços, a economia está totalmente descontrolada.
TM – E esse descontrole é culpa do governo federal?
Guido Mantega – O governo federal entregou a Petrobras para o setor privado, ela atua como se fosse uma empresa privada, está pouco se lixando para o impacto do aumento de preços, aumentou a gasolina e o diesel e hoje está tendo um lucro muito alto, porque está cobrando muito mais do que deveria. Os trabalhadores de aplicativo, por exemplo, estão tendo prejuízo.
TM – E o Banco Central vai subir mais os juros. Como isso impacta na vida dos brasileiros?
Guido Mantega – Os juros estão subindo 1% em cada reunião do Copom, está em 5,25% e vai na próxima reunião para 6,25% e assim vai indo, vai chegar a uns 8%. Hoje quase 60% de toda a população está endividada, com os juros subindo vão pagar ainda mais. O trabalhador compromete 30% da sua renda com o pagamento dos carnês, está no limite do endividamento e se os juros sobem vai ser comprometida uma parte ainda maior da renda. É uma situação que leva ao empobrecimento.
TM – E as projeções são de piora?
Guido Mantega – Estamos falando de uma inflação de 12 meses, ela deveria estar caindo, mas não está, de acordo com as previsões. Há outros problemas, os fornecedores não estão conseguindo entregar as peças, a tendência é que aumentem os preços, há um espiral inflacionário pela frente e com isso vai diminuir mais o poder aquisitivo. Ao diminuir o poder aquisitivo, a economia vai crescer menos e o desemprego vai continuar alto.
TM – E qual a saída?
Guido Mantega – A saída já foi apresentada, o próprio presidente Lula apresentou. Primeiro combater essa crise com mais energia, aumentar a vacinação da população, porque aí a economia volta a funcionar. E enquanto isso não acontece, tem que ter um auxílio emergencial que permita que a população sobreviva, e aí reativa a economia.