Fabricantes de aço e alumínio acirram briga por automóveis

As exigências de alguns governos por menor consumo de combustível, cuja urgência é impulsionada pela alta recente no preço da gasolina, estão aumentando a temperatura da briga e da retórica entre as empresas de aço e alumínio na disputa pela próxima geração de carros ultraleves.

A busca pela redução do peso dos carros é mundial. Nos Estados Unidos, as montadoras querem eliminar entre 110 e 310 quilos de cada carro, ou 15% do peso, para alcançar as exigências do Departamento de Transportes e da Agência de Proteção Ambiental, que querem reduzir o consumo de combustível dos carros entre 7% e 20%.

Outros países, como os integrantes da União Europeia, também estão ins istindo em carros mais econômicos.

“Para atingir o próximo passo em economia de combustível, é preciso considerar um novo material: o alumínio&qu ot;, diz Klaus Kleinfeld, diretor-presidente da Alcoa Inc.

A maior produtora de alumínio dos EUA contratou mais de 1.300 pessoas nos últimos 12 meses, principalmente para a divisão automotiva, e Kleinfeld diz que quer dobrar até 2013 o volume de alumínio que vende para as montadoras.

O alumínio é em média entre 10% e 40% mais leve que o aço, a depender do produto, mas também é mais caro.

“Acredito que o aço chegou ao limite”, diz Kleinfeld, referindo-se ao apelo do metal para a próxima geração de carros mais leves e econômicos.

Seu comentário motivou a seguinte resposta de Lakshmi Mittal, diretor-presidente da ArcelorMittal, maior siderúrgica do mundo: “N ão vejo o que Klaus está dizendo.

A indústria de alumínio alardeia essa profecia há muito tempo”. O mercado automotivo é gigantesco em termos de volume e lucro para as siderúrgicas, consumindo mais de 100 milhões de toneladas de metal por ano.

Embora o aço continue dominando – são 87 milhões de toneladas de aço por ano na produção mundial de automóveis, ante apenas 12,5 milhões de toneladas de alumínio, segundo a consultoria e firma de pesquisa de mercado Ducker Worldwide -, a exi gência de carros mais leves está abrindo o caminho para o alumínio.

A diferença entre o preço do alumínio e o do aço tem diminuído. O alumínio costumava ser duas vez mais caro que o aço, mas agora custa 35% a mais – embora a diferença possa chegar a 70% dependendo da qualidade.

A Alcoa também afir ma que, usando o alumínio, as montadoras não precisam mais de tantos fechos, pinos e outros mecanismos para prender as peças, o que permite que diminuam ainda mais o peso.

Kleinfeld diz que o alumínio pode ser moldado por extrusão em várias formas, diminuindo o número de peças. A Alcoa produz uma tampa do porta-malas que pesa 4,5 quilos a menos que a versão de aço.

Uma desvantagem do alumínio é que muitas montadoras têm equipamentos e robôs que só operam com peças de aço e teriam de ser reformados ou substituídos para trabalhar com o alumínio, que tem espessura e propriedades de solda diferentes, afirmam as siderúrgicas.

Enquanto isso, as siderúrgicas estão em busca de um produto mais leve. A ArcelorMittal está construindo centros de projeto automotivo no Japão e na China, e seus engenheiros já projetam pe& ccedil;as de aço altamente resistente que pesam 14% menos q ue a geração anterior e custam a mesma coisa.A U.S. Steel Corp. está construindo uma nova linha de montagem de US$ 400 milhões em conjunto com a japonesa Kobe Steel Ltd. para produzir conjuntamente seu próprio aço de alta resistência.

Ela também já tem uma linha desse tipo perto de Pittsburgh, a poucos quilômetros do centro de pesquisa e desenvolvimento da Alcoa.”A batalha é casa a casa e mano a mano”, diz John Surma, diretor-preside nte da U.S. Steel, sobre a concorrência com as peças automotivas de alumínio.

“Essa guerra é crucial para nós.”Surma diz que as vendas para o mercado automotivo respondem por cerca de 25% do seu faturamento na América do Norte. “Eles são nossos clientes mais exigentes em nosso mercado mais exigente”, disse ele.As montadoras adora m a competição entre os fornecedores e afirmam que precisam mesmo de mudanças nos materiais para conseguir atender às exigências do governo americano, que determinam uma autonomia de 15 km por litro para a frota americana até 2016, o que implica a redução do peso do carro em centenas de quilos.

Um sedã de passeio normal tem 25% do peso no motor e 25% na carroceria. Ambos geralmente são feitos de aço. O chassi e a suspensão respondem por outros 21% e também são feitos principalmente de aço.

O interior do veículo tem 14% do peso e o restante, 15%, está nos vidros, na parte elétrica, nas portas, nos líquidos e no acabamento.As montadoras estão se concentrando na carroceria para baixar o peso, exatamente a área que as siderúrgicas estão contestando. Quem será que vai ganhar?”Acredito que até 2015 e 2010 usaremos cada vez mais alumínio”, diz Matthew Zaluzec, gerente de materiais mundiais e pesquisa de manufatura da Ford Motor Co. “Pode não ser 100%, mas pode ser mais de 50%.” Isso seria um grande salto: no momento, cerca de 8% do peso do carro vem do alumínio e 57% do aço.Mas é impossível ignorar o custo maior do alumínio, diz Christian Buhlmann, porta-voz da Volkswagen, a maior montadora da Europa em vendas. “Claro que usar o alumínio tem seu preço”, diz ele. “É uma questão de quanto do orçamento será gasto nisso.”

Do The Wall Street Journal Americas, via CNM-CUT