Fabricantes de ônibus e caminhões temem invasão chinesa no Brasil
Fabricantes de ônibus e caminhões brasileiros estão preocupados com a concorrência chinesa. Há receio de que fabricantes chineses, como é o caso da montadora de ônibus Yutong, utilizem o Uruguai para vender veículos ao Brasil por preços baixos, valendo-se das facilidades tributárias do Mercosul. É o que executivos do setor chamam de triangulação. Só em 2011 a Yutong tem como meta vender mais de cem ônibus no mercado uruguaio, todos importados de sua fábrica em Zhengzhou, província de Henan.
Na visão de empresas brasileiras, a importação de ônibus montados da China pode ser o primeiro passo para fazer a montagem de veículos no Uruguai. Depois de prontos, parte dos ônibus teria como destino o Brasil, onde os veículos poderiam entrar sem pagar imposto de importação. Entre executivos do setor existe também a avaliação de que a valorização do real permite aos chineses exportar diretamente e entrar no mercado brasileiro de forma competitiva, mesmo pagando 35% de imposto de importação.
“Há receio de que o Uruguai seja usado em triangulação para trazer ônibus desmontados ou semi-montados da China”, disse Rodrigo Pikussa, gerente de exportações da Marcopolo, fabricante de carrocerias de ônibus com sede em Caxias do Sul (RS). Segundo Pikussa, o que existe por enquanto são movimentos indicando a possibilidade de uma montagem local no Uruguai, mas sem nenhum fato concreto.
Mesmo assim, a empresa vem tratando o assunto no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Pikussa avaliou que o Uruguai é hoje o mercado próximo ao Brasil onde os ônibus chineses estão mais consolidados. Além da Yutong, há outros fabricantes chineses de ônibus presentes com vendas no Uruguai, como é o caso da Foton.
Em caminhões, nomes como Howo, pertencente à Sinotruk, e Shacman, além da própria Foton, marcam presença no mercado uruguaio, segundo a consultoria Autodata. Dados da empresa indicam que a Shacman vendeu 117 caminhões no Uruguai este ano e a Howo, 28 unidades.
A Yutong fez vendas de ônibus urbanos e rodoviários para duas das principais empresas uruguaias do setor, Cutcsa e Copsa. S.P. Chang, consultor da Primatur, empresa que representa a Yutong no Uruguai, disse que qualquer decisão sobre montar ônibus chineses no mercado uruguaio depende da matriz da empresa, na China.
Ele minimizou a preocupação da indústria brasileira sobre a concorrência a ser imposta pelos chineses. E disse que um executivo da Yutong já manteve contatos no Brasil de olho no potencial do mercado nacional de ônibus. A Primatur representa a Yutong no Uruguai desde dezembro de 2006 e, até o fim de 2010, vendeu cerca de 200 ônibus no país. Esse número deverá ultrapassar 300 unidades até o fim deste ano, disse.
Pela primeira vez este ano, os fabricantes chineses de caminhões estarão participando da Fenatran, a principal feira de transporte de carga do Brasil, de 24 a 28 de outubro, no Anhembi, em São Paulo. Hércules Ricco, diretor da Fenatran, disse que os fabricantes Shacman, Sinotruk e Foton estarão presentes ao evento com estandes médios de 340 metros quadrados cada um. Os chineses vão apresentar seus produtos ao lado de fabricantes nacionais tradicionais. De forma inédita, será possível fazer test drive de caminhões no evento.
Roberto Cortes, presidente da MAN Latin America, disse que a preocupação com os chineses inclui tanto caminhões como ônibus. E não se limita ao curto prazo, mas também em horizonte de tempo maior, levando em conta a necessidade de os chineses contarem, no Brasil, com uma rede de assistência técnica para prestar serviços nas várias regiões do país.
Os caminhões chineses podem chegar, segundo Cortes, por preços muito baixos, mesmo pagando imposto de importação. O presidente da MAN reconheceu, porém, que é difícil provar danos para permitir a aplicação de medidas de defesa comercial contra os chineses, como o antidumping.
Do Valor Econômico