FGTS deve fechar quadrimestre com R$ 1,65 bi no positivo
O ministro do Trabalho e Emprego (MTE), Carlos Lupi, falou sobre a retomada do crescimento no nível de emprego, o aumento do salário mínimo e o mercado de trabalho
Emprego – “O Brasil tinha muitas pessoas que em dezembro já estavam fazendo a apoteose do apocalipse, anunciando que o mundo estava acabando e o Brasil também. Estamos mostrando na prática que isso não é verdade. O Brasil tem características muito diferenciadas. Primeiro, é um país continental. Quando há a alta safra da agricultura no Sul do País, você tem a entressafra no Nordeste. É uma grandiosidade. Segundo, temos características diferenciadas de cada estado. Temos um polo industrial muito forte no eixo SP – Rio – MG, mas vemos o polo industrial crescer em todo o Sul do País e agora se inverter, também, para o Nordeste. Então, por exemplo, em dezembro contratamos 800 mil trabalhadores – o pior mês da história – e demitimos 1,45 milhão. Isso significou um saldo negativo de 651 mil. Já em janeiro, no auge da crise, o mundo todo demitindo – os EUA demitiram, em 2008, mais de 2 milhões de trabalhadores – e o Brasil fechou o ano com um 1,45 milhão positivo. Ou seja, no auge da crise, o Brasil ainda fechou com saldo positivo e o terceiro maior de sua história. Em janeiro, começou a inverter. Subimos de 800 mil contratações em dezembro para quase 1,2 milhão em janeiro, ou seja, 400 mil contratações a mais. E as demissões deste ano, de 1,45 milhão para 1,3 milhão. Então, o saldo foi negativo, mas a curva começou a subir fortemente. Não conheço nenhuma economia do mundo que na crise consiga contratar 400 mil trabalhadores que no mês anterior. Acontece que, em fevereiro, o saldo acabou positivo em nove mil contratações. Em março, subiu mais, com 35 mil positivos. Em abril, vai ser mais. Começamos a coletar dados em 1º de maio. É bom informar à população que o Caged é dado concreto, não é pesquisa. A economia brasileira reagiu bem em fevereiro e março. Em abril, vai ser melhor. Verificamos que os setores direcionados para a exportação foram os que mais sofreram o impacto da crise por causa da perda do mercado de exportação. Ao mesmo tempo, a valorização do dólar compensou um pouco.”
FGTS – “O saldo de março foi atípico por causa da decorrência das grandes demissões ocorridas em dezembro, com mais de 650 mil trabalhadores dispensados – no balanço do Caged, contratados e demitidos pela CLT em contrato formal de trabalho – e mais 100 mil negativos em janeiro. Isso totalizou quase 750 mil trabalhadores perdendo o emprego em dois meses. É claro que até o trabalhador dar entrada, fazer rescisão, receber e retirar o seu fundo de garantia, ele leva um tempo. Então ocorreu em março esse fenômeno de ter um saldo negativo de R$ 440 milhões, justamente por causa dessa grande demissão. Agora, a média do quadrimestre é altamente positiva. Estamos começando abril com cerca de R$ 340 milhões no positivo, o que vai dar um total no primeiro quadrimestre de mais de R$ 1,65 bilhão de saldo positivo. Apenas março foi negativo em decorrência desse fato de saques maiores relativos às demissões de dezembro e janeiro. Então, o FGTS é altamente positivo. Há mais de R$ 200 bilhões em caixa, aplicados pelos bancos, que são agentes operadores. É o principal sistema financiador de construção de casa própria, do setor de infraestrutura, de saneamento. É um fundo altamente superavitário.”
Crise global – “O Brasil já está vencendo. Sou um otimista convicto. O Brasil tem condições que outros do mundo não têm, como boas condições climáticas; 20% da água potável do mundo; território fértil; quatro colheitas ao ano, uma diversificação da economia. O mundo todo reclamando da falta de petróleo e a cada dia a Petrobras acha mais. Nosso crescimento do PIB vai ser mais de 2% porque o Brasil já saiu da crise antes de todos os países e ao longo dos meses vocês vão verificar isso.”
Qualificação – “Penso que a qualificação profissional é uma espécie de educação do trabalhador para o mercado de trabalho moderno. Nesta semana, foi lançada no Ministério do Trabalho uma parceria com o Dieese, uma espécie de radiografia geral de todo o Ministério, com todos os programas, nas áreas de qualificação e projetos, que são os programas para geração de renda de pequenas empresas, área do Pró-Jovem, que são os programas de qualificação da juventude; o FGTS; o FAT; o balanço do Ministério. Estamos investindo muito na área de qualificação dos trabalhadores. Aumentamos os recursos para essa área. Neste ano, o objetivo é fechar com mais de um milhão de trabalhadores – entre jovens e mais maduros – qualificados para o mercado de trabalho. Acho que essa é a principal diferença. O trabalhador tem que se conscientizar de que ele não pode mais ter apenas uma qualificação. Ele tem que buscar mais capacitação e mais de uma habilidade para conseguir com mais facilidade o seu emprego. Um exemplo é o setor sucroalcooleiro, que está ficando muito mecanizado. Cada máquina daquela deve substituir uns cem trabalhadores, até mais. Se o trabalhador não treinar, por exemplo, para saber mexer naquelas máquinas, está desempregado.”
Economia – “Temos que ter muita tranqüilidade, verificar as dimensões continentais do nosso País, a diversidade da nossa economia. Somos o maior produtor e o maior rebanho de carne de gado do mundo. São mais de 200 milhões de carne de gado; somos o maior exportador de carnes de frango e suína do mundo. Temos diversidade. Somos também o maior produtor de soja. Temos solidez nos bancos. Na reserva cambial, nos cofres do Banco Central, há mais de US$ 200 bilhões. A inflação está sob controle; BC baixou três vezes consecutivamente as taxas de juros e o governo está investindo em políticas públicas para gerar emprego. Os dois fundos do Ministério do Trabalho, tanto o FGTS quanto o FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador – têm vários recursos investidos, um montante muito grande investido na área de produção e geração de emprego e renda.”
Anuário – “Só para dar um exemplo, no ano de 2008 tivemos 4,3 milhões de trabalhadores inscritos no Sine, que foram buscar emprego. O sistema oferecia dois milhões de vagas. Só que 900 mil postos de trabalho ofertados não foram ocupados por falta de qualificação profissional. É um absurdo: as pessoas procuram emprego que existe, mas elas não têm qualificação profissional. Essa é a prova concreta da necessidade que temos de investir pesado na qualificação. Por isso, temos feito parceria com estados e municípios, com um trabalho coordenado para buscar o foco, onde há necessidade, onde o emprego está surgindo, e o treinamento do trabalhador para que ele consiga esse emprego que está aparecendo.”
Salário mínimo – “Já tivemos um aumento a partir de 1º de fevereiro. O salário mínimo era de R$ 415 e passou para R$ 465. Só para se ter uma idéia, tivemos, de janeiro de 2003 até 1º de maio de2009, um aumento real do salário mínimo de 62%. Esse é o principal foco motivador do aquecimento do mercado de trabalho. O salário mínimo valia em torno de US$ 80 ou US$ 82, e hoje vale em torno de US$ 200. É o ideal? Não, mas você vê que tem um avanço. Você vê que a população está começando a comprar um pouquinho mais, conseguindo melhorar um pouco suas condições de vida. Isso porque a política salarial adotada pelo presidente Lula é de dar a taxa da inflação do ano anterior mais o crescimento da economia – do PIB nacional. Então isso, por lei, dá o crescimento real do salário mínimo ao longo dos anos. A partir do ano que vem, o aumento já vai ser em 1º de janeiro. Isso está fazendo com que o Brasil consiga avançar e fortaleça a sua economia.”
Trabalho escravo – “O Pará é o estado onde verificamos a maior incidência de trabalho análogo a escravo. Nossas equipes móveis do Ministério do Trabalho, com o apoio da Polícia Federal e do Ministério Público, muitas vezes acompanhadas por organizações não governamentais, OAB e governo do Estado, criaram, em janeiro, o chamado Marco Zero. O Estado passa a substituir o “zangão (intermediador de mão-de-obra), que é o principal foco. Nas fazendas do interior do Pará, os caminhões levam as pessoas para trocar trabalho por comida. No final do mês, sem condições de higiene e nem dormitório, o trabalhador troca a comida pelo trabalho e fica devendo, terminando o mês de trabalho com dívidas para o mês seguinte.Lançamos, em janeiro, com apoio de quatro governadores – Mato Grosso, Maranhão, Pará e Piauí – o Marco Zero, que significa fazer uma ação direta de educação dos trabalhadores. É muita pressão poderosa, mas estamos cumprindo com nossa obrigação.”
Do Em Questão