Filhas do Vento
Continua em cartaz o filme Filhas do Vento, dirigido pelo premiado diretor Joel Zito, que já esteve conosco debatendo o tema da discriminação racial. O filme narra a saga de duas irmãs, separadas por conflitos familiares e que se reencontram, anos depois, por ocasião da morte do pai. A história, tratada com apurada qualidade narrativa e visual, poderia ser apenas mais uma obra bem realizada por um promissor diretor estreante.
O filme, no entanto, é muito mais que isto. Trata-se da história de uma família de negros, retratada em seu cotidiano de uma forma que não costumamos ver em filmes ou nas novelas na televisão: uma família que aumenta com a chegada de netos; adolescentes que têm sonhos, namoram, vão a festas da comunidade e compartilham segredos; uma família onde os conflitos provocam a separação entre irmãs, levando uma delas a tentar a sorte na cidade grande, vindo a se tornar uma grande atriz; uma família onde os laços de ternura e de afeto, no entanto, não são desfeitos, apesar dos ressentimentos.
Ao narrar esta história, o diretor revela uma realidade que costumamos não enxergar, pois nas novelas e nos filmes os negros são geralmente retratados como personagens destituídos de família e de uma vida comum, ocupando funções subalternas no espaço do outro, continuando a ser os eternos serviçais dos brancos.
O filme mostra também uma realidade que não conseguimos imaginar como possível: mulheres negras bem sucedidas, cultas, bonitas, que se vestem bem, que têm apartamento e carro, que lutaram e continuam lutando muito contra a discriminação e o preconceito existente na sociedade brasileira.
Nos anos 80, Joel Zito foi formador sindical no Sindicato dos Telefônicos de Minas Gerais e no Dieese. Hoje é um diretor de cinema. Sua mais recente obra é também uma lição de cidadania.
Departamento de Formação