Flores de Aço
Março marcou as comemorações pelo Dia Internacional da Mulher. Desde que a data surgiu, em 1857, muito se conquistou em todo o mundo, mas há muito que lutar por igualdade. Essa briga é ainda mais evidente na vida de mulheres negras, das mais jovens e com deficiência, historicamente sujeitas a mais discriminação e menos oportunidades.
Elas estudam mais e recebem menos
As mulheres metalúrgicas são jovens (a maioria tem menos de 40 anos) e possuem mais escolaridade do que os homens, mas, mesmo cumprindo igual jornada ou ocupando cargos iguais, ganham menos e estão mais sujeitas a demissões.
A conclusão é de estudo publicado neste ano pelo Dieese. Ele mostra que apesar da recuperação do emprego no setor, a categoria ainda é majoritariamente masculina: as trabalhadoras representam apenas 15% do total.
Segundo o estudo, o que prevalece é a falsa idéia de que existem papéis específicos para mulheres e para homens, que garantem habilidades naturais para cada um. Por essa visão, algumas profissões são mais adequadas aos homens, enquanto outras típicas de mulher.
Diferenças – O curioso é que, mesmo numa função considerada típica de mulher, como a de recepcionista, os homens recebem em média R$ 802,61, enquanto as mulheres ficam com R$ 592,82, mesmo com a mesma escolaridade e igual tempo de serviço.
O estudo ressalta a necessidade de cláusulas que garantam igualdade de acesso a cargos, promoções e salários. Atualmente, 60% dos acordos coletivos de trabalho não apresentam nenhuma cláusula de garantia para as mulheres. Os direitos das metalúrgicas regulados por esses instrumentos restringem-se a questões relativas à maternidade e saúde reprodutiva e, em geral, já regulados por lei.
Bandeiras – “Queremos buscar conquistas que permitam a igualdade de condições entre homens e mulheres, colocando fim à discriminação. Para isso, nossa prioridade é ampliar a participação feminina na luta sindical, estar presente na vida do Sindicato”, afirma Michelle Silva, coordenadora da Comissão de Mulheres.
A luta por igualdade de oportunidades e respeito às diferenças passa ainda, segundo ela, pelo combate aos assédios moral e sexual e à violência praticada contra as mulheres.
Guerreiras de todos os dias
Elas sofrem discriminação não apenas por serem mulheres. São trabalhadoras negras, com deficiência ou jovens em início de carreira, que vão à luta diariamente e sabem que têm de provar a toda hora sua competência.
Preconceito enrustido – Andréa Maria da Silva Melo, 39 anos, operadora na Panex, começou a trabalhar aos 15 como balconista e, desde muito cedo, sentiu o preconceito por ser negra. “No comércio, como a gente tem contato direto com o público, é mais fácil perceber”, conta. Embora nunca tenha enfrentado uma situação-limite, nem se sinta discriminada em seu atual local de trabalho, ela explica que o preconceito nem sempre é explícito. Em geral, é percebido muito mais pelos gestos das pessoas, o modo de olhar, do que pelas palavras. “Nas agências de emprego, por exemplo, as vagas estavam preenchidas quando chegava a minha vez”, afirma. Para ela, a maior dificuldade para o negro é o acesso ao estudo. “Gostaria muito de ter estudado mais”, destaca.
Capacidade à prova – A paralisia infantil foi a causa da deficiência em uma das pernas de Ana Paula Alves de Jesus, 35 anos, mãe de dois garotos e trabalhadora na Kostal. Na empresa há 11 anos, atualmente como auxiliar de produção, ela relembra que a deficiência não a afastou de um destino comum a tantos brasileiros: o trabalho desde a infância. “Minha família sempre foi muito humilde e eu precisava trabalhar”, recorda. A chegada à empresa ocorreu após o envio de um currículo. “Discriminação sempre há. As pessoas nos olham de forma diferente, nem sempre acreditam que podemos ser capazes