Fome faz brasileiro disputar no lixo ossos de boi e distribuição de pele de frango

Com 33 milhões de pessoas passando fome, os pobres continuam disputando ossos de boi dispensados em caminhões de lixo por supermercado. Outras centenas fazem fila para receber pele de frango doado a uma ONG

Foto: Divulgação

Cenas revoltantes causadas pela fome e pela miséria no Brasil – um dos maiores produtores de alimentos do mundo – voltaram a circular esta semana, escancarando a tragédia da desigualdade social no país. Enquanto os ricos acumulam cada vez mais dinheiro, os pobres estão cada vez mais pobres, com 33 milhões de pessoas passando fome, e a saída para muitos é disputar com outros miseráveis o lixo dos supermercados ou sobras do que ninguém quer comprar porque é ruim e faz mal à saúde.

Depois do caso que chocou o Brasil em setembro do ano passado em que a população disputava ossos de boi com pequenos restos de carne para comer, a cena se repete na mesma cidade, o Rio de Janeiro. O fotojornalista Onofre Veras, flagrou na Rua do Rezende, no centro da cidade, na tarde dessa segunda-feira (11),  pessoas disputando os ossos, descartados por um supermercado, que estavam dentro de um caminhão de lixo.

Em 10 meses entre uma cena e outra nada mudou. Ao contrário, a inflação dos preços dos alimentos tem levado cada vez mais as famílias a cortarem o consumo e procurar preços mais baixos, como os dos alimentos processados, mas nada saudáveis.

Em 12 meses até junho, o grupo alimentação e bebidas acumulou alta de 13,93%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa disparada de preços dos alimentos e da cesta básica também tem feito centenas de brasileiros e brasileiras a disputar a distribuição de peles e ossos de frangos.

Em Maceió, na capital alagoana, uma ONG que atua no conjunto Jorge Quintella, bairro do Benedito Bentes, distribui semanalmente doações de ossos de boi e peles de frango, vindas de açougues do mercado público da cidade.

Em entrevista ao UOL, Vânia Gato, secretária e fundadora do Instituto, há três anos, contou que as doações de ossos e pele começaram em 2020, logo após a chegada da pandemia no país. Foi quando ela percebeu que as famílias da comunidade estavam com mais dificuldades financeiras.

Além de ossos e peles de frango, ela diz que também pede no mercado a doação de verduras, que servem para fazer a sopa preparada quinzenalmente, mas que não recebe nenhum apoio do poder público.

Enquanto alguns tentam fazer caridade, outros querem ganhar ainda mais em cima da miséria do povo. Um supermercado de Belém, no Pará, estava vendendo restos de peixe (vísceras, espinhas e cabeças) a R$ 3,90 o quilo. Em Florianópolis, ao invés de doar ossos, como ocorre no Rio de Janeiro e em Cuiabá, um açougue começou a vender. Denunciado nas redes sociais e pressionado pelo Procon acabou voltando atrás

Outro supermercado no Espírito Santo chegou a colocar à venda pele de frango, mas recuou, após a população demonstrar indignação pelo ato.

A pobreza no Brasil

Os 5% mais pobres do país têm renda mensal média de R$ 39, em 2021. No ano anterior de 2020, viviam com R$ 59 – queda de 33,9%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio ( Pnad Contínua: Rendimento de Todas as Fontes 2021), do IBGE.