Fome zero não é só doação de alimentos

Entrevista com Luiz Marinho, presidente da CUT Nacional

O que representa a entrada dos metalúrgicos do ABC no Fome Zero?

Ao contrário do que muitos pensam, o programa não é apenas um mutirão alimentar. Abrange desde a coleta de alimentos, até a geração de emprego e renda. A categoria pode entrar doando, por exemplo, para construção de cisternas no Nordeste.

Por quê?
Além de comida, o Nordeste precisa produzir alimentos. Aí entram as cisternas nos quintais para garantir águas às famílias regarem a horta, dar aos animais domésticos etc. Especialistas afirmam que água é mais importante em alguns lugares que o próprio alimento.

Você vai presidir o Consea a pedido de Lula. Participar do governo não prejudicará sua atuação futura na CUT?
Não faço parte do governo. O Consea tem representantes do governo e da sociedade. E estou lá por indicação da CUT. No início não aceitei por causa das tarefas que terei se for confirmado presidente da central. Acabei topando porque todos nós que sonhamos mudar o Brasil devem contribuir. Este é o momento. A propósito, ninguém recebe nada por tomar parte do Consea.

Qual é a ligação do órgão com o Fome Zero?
O programa pressupõe, digamos, aumentar a produção agrícola. Caberá ao Consea pensar a política adequada para este fim. Seu nome já diz: Conselho Nacional de Segurança Alimentar.

Como isto acontece?
Estamos concluindo estudo sobre a participação da agricultura familiar na produção para a safra deste ano. Esta participação é importante para não deixar a agricultura apenas para grandes negócios. Mas é possível? Os pequenos plantadores conseguem escoar o que produzem? Como a reforma agrária pode interferir neste processo? Precisamos responder estas questões antes de decidir.

Então a interferência do Consea é grande?
Sim. O Fome Zero é um programa transversal. Ele envolve vários ministérios em suas ações. Agricultura e Desenvolvimento Agrário por motivos óbvios. Educação para o combate ao analfabetismo. Saúde, Ação Social e assim por diante.