Fome zero: Pessoal na Makita auxilia favelados
Os trabalhadores na Makita, em São Bernardo, agiram. Sensibilizados pelo discurso de posse do presidente Lula, que disse estar realizado se até o final de seu governo todos os brasileiros realizarem três refeições por dia, um comitê de combate à fome já foi montado na empresa.
A assembléia que aprovou a campanha definiu que os alimentos seriam distribuídos as 44 famílias que moram na favela Fazendinha, a cerca de 500 metros da Makita.
“Lá é outro mundo, tamanho o nível de miséria do pessoal”, relata Paulo Dias, diretor do Sindicato. De cinco a 10 pessoas vivem amontoadas em barracos precaríssimos, em meio de uma sujeira absurda, com esgoto correndo a céu aberto, inclusive dentro dos próprios barracos. Não existe luz elétrica e o carro-pipa entrega água apenas uma vez por semana.
“Sabemos que só o alimento não resolve, mas a idéia é criar uma situação de barganha. Por exemplo, promover nova entrega de alimentos apenas se os moradores na favela limparem o local, ou algo parecido”, continua Dias. “É um problema que precisaremos meditar muito para ver o que fazer”, completa o dirigente.
Adesão ao comitê impressiona – Após a aprovação da proposta do Sistema Único de Representação (SUR) em assembléia na fábrica, foram distribuídas fichas de inscrição e a adesão foi impressionante. Dos 180 companheiros e companheiras, 106 haviam aceitado até ontem. E as adesões prosseguiam.
Quem assina, assume o compromisso de doar um quilo de alimento por mês. Quinze grupos com sete pessoas cada foram formados e, a seguir, definidos os produtos que cada um doará.
Os sete escolhidos foram arroz, feijão, farinha de mandioca, açúcar, macarrão (dois pacotes), sardinha (duas latinhas) e óleo (uma lata).
Ajuda, e muito”, diz moradora – Em meio a muito barro e muita chuva, os trabalhadores na Makita entregaram ontem os primeiros alimentos. Foram divididas entre as diversas famílias cadastradas 15 sacolas com cinco quilos, em média, cada.
Cerca de 30 mulheres e crianças esperavam os mantimentos. Tímidos e retraídos, agradeceram bastante mas falaram pouco. “Já ajuda. E muito”, disse Luciana dos Santos que mora com outras nove pessoas em um barraco, ao receber sua sacola.
Maria Teresa Fintani, tuberculosa e anêmica, chorou muito ao ganhar seu pacote. “Remédio eu até consigo. Só não tinha o que comer”, agradeceu emocionada.
“Aqui um ajuda o outro”, comentou Andrea Cristina Benites, que mora com sete parentes, tem o marido desempregado, como todas as outras mulheres que participaram da distribuição. “Aqui vivemos em comunhão de bens”, acrescentou uma jovem, com um nenê no colo, que preferiu não dizer o nome.