Ford: Carro novo é resultado da luta na fábrica em São Bernardo
O Sindicato realiza assembléia hoje na Ford, para apresentar aos trabalhadores os detalhes do acordo a ser fechado com a montadora e que permitirá o desenvolvimento e produção de um modelo popular na fábrica de São Bernardo.
O anúncio coroa todo um processo de luta dos companheiros na empresa, que teve início em 1999.
Empregos e produção garantidos
A conclusão das negociações entre o Sindicato e a Ford serão anunciadas hoje para o pessoal na montadora durante a assembléia que vai explicar o desenvolvimento e a produção de um novo modelo na fábrica de São Bernardo.
“A produção de um novo carro coroa um processo de lutas que vem desde 1999. Nos assegura que os empregos serão mantidos e que a fábrica permanecerá aqui na cidade. Podemos pensar até na geração de novos postos”, disse Rafael Marques, secretário-geral do Sindicato e trabalhador na Ford.
A montadora não detalhou o projeto no anúncio que fez à imprensa no último sábado. Afirmou apenas que o carro é parte da estratégia de ampliar sua participação no mercado e será um modelo compacto complementar à linha já existente, que fica mantida.
A Ford afirma ainda que o modelo será desenvolvido no Brasil para o mercado interno e exportação.
“O Natal mais triste de nossas vidas”
É vivo na memória de muitos companheiros o final de 1998. Foi logo depois de uma festa de confraternização, no dia 18 de dezembro, há uma semana do Natal, que muita gente chegou em casa e lá lhe esperava uma carta anunciando a demissão. Foram 2.800 companheiros mandados embora no mesmo dia.
A mobilização foi imediata após o anúncio das dispensas. Sindicato e Sistema Único de Representação montaram um plantão durante o período de férias e armaram uma estratégia que mobilizaria o País ao exigirem o direito ao trabalho.
Foi o que aconteceu na manhã de 4 de janeiro de 1999. O movimento ficou nacional, como um símbolo de resistência ao desemprego que atingia suas mais altas taxas no País.
Foram quase 30 dias de assembléias, atos, manifestações, ocupação de concessionárias da marca e encontros com os Poderes Públicos.
Trabalhadores e seus familiares recebiam a solidariedade da categoria e do Brasil. As demissões foram suspensas no dia 2 de fevereiro.
A nova etapa da luta
Um plano de voluntariado foi aberto na Ford e o pessoal foi afastado recebendo o salário em casa.
Aos poucos, os companheiros foram voltando ao serviço e o Sindicato passou a desenvolver uma série de ações. A primeira foi conquistar um acordo de garantia de emprego por cinco anos, que vence em 2006. Neste acordo, uma cláusula determina que Sindicato e empresa buscassem alternativas ao investimento no novo produto.
Depois, a fábrica de caminhões foi transferida do Ipiranga para São Bernardo.
Sindicato e Sistema Único de Representação também pressionaram os governos a contribuir com essa luta.
A vinda do presidente Lula à fábrica foi fundamental. Também foram importantes os créditos de ICMS que serão revertidos em investimentos.
Houve ainda a transferência de companheiros daqui para a fábrica de Taubaté.
Mais recentemente, a batalha foi contra a ameaça ao funcionamento da estamparia por causa de um conjunto residencial que teve liberada sua construção pela Prefeitura, mesmo sendo ali uma zona industrial.
“É importante frisar que todo esse processo ocorreu da maneira mais transparente, sempre com o debate dos companheiros e decisões tomadas em assembléias”, assinala Teonílio Monteiro, o Barba, diretor do Sindicato.
“A conquista do novo produto mostra a maturidade do Sindicato, trabalhadores e empresa em discutir um assunto do interesse de todos”, finaliza Barba.