Ford: Moradores estão revoltados

É amanhã a manifestação dos trabalhadores na Ford, de São Bernardo, em defesa de seus empregos. Eles estão ameaçados por uma ação do Ministério Público (MP) que pode inibir novos investimentos da montadora. Junto com os metalúrgicos estarão os moradores dos conjuntos residenciais irregularmente construídos ao lado da fábrica, no bairro do Taboão.

Eles alegam que a estamparia causa problemas de saúde e rachaduras nos apartamentos devido a vibração e ruído. Mas apóiam a luta dos metalúrgicos porque têm dimensão da tragédia social que o desemprego traz.

Por isto o ato pretende chamar a atenção para discutir o problema e encontrar uma solução que preserve o patrimônio dos moradores e mantenha o emprego dos trabalhadores. 

Simpatia, revolta e susto
A mobilização tem a simpatia dos moradores porque a maioria dos 360 apartamentos dos conjuntos San Giacomo e San Genaro é habitada por trabalhadores na indústria – muitos na própria Ford ou na Mercedes-Benz, que ficam perto – e prestadores de serviços (comerciantes, cabeleireiras etc).

Só que os moradores estão revoltados e assustados. Revoltados com a Caixa Econômica Federal por ter emprestado seu nome e prestígio a um empreendimento irregular. Revoltados com as construtoras que comercializaram os apartamentos apesar de saberem do problema. Revoltados com a Prefeitura por permitir a obra. E, principalmente, assustados porque temem perder os apartamentos onde colocaram todas as economias de uma vida de trabalho (quase todos deram como entrada o saldo do FGTS).

Nenhuma reclamação contra o comportamento da Ford.

O pessoal do San Giacomo e do San Genaro confirma a versão apresentada pela montadora, de que se preocupou com a construção do condomínio, prevendo problemas por causa do barulho e da vibração. 

Desconfiados
Segundo os moradores, quando a empresa percebeu que não tinha jeito e os prédios seriam erguidos tomou as providências legais para impedir o início das obras. O nó é que eles souberam disso tudo só quando entraram na Justiça contra a Caixa Econômica Federal pedindo indenização pela compra do imóvel.

O estande de vendas do conjunto funcionava só nos fins de semana, quando a Ford não trabalhava. Por isto os compradores não percebiam barulho ou vibração.

Aos que mesmo assim desconfiavam, os vendedores alegavam a existência de um acordo com a Prefeitura para a construção de obras contra ruído. Se era verdade, nunca foi cumprido.

Quem ajuda os moradores?
Agora o dia-a-dia dos moradores é estressante. Noite passada, por exemplo, a trepidação era tanta que as portas do guarda-roupa de um proprietário – trabalhador na Ford – abriram sem parar, assustando sua filha pequena, que começou a gritar. Sua companheira, revoltada, telefonava para a polícia, a Ford, a Cetesb, a Prefeitura sem saber a quem pedir ajuda.

Outra moradora – uma cabeleireira – conta que não pôde dormir por causa do choro desesperado de uma vizinha devido o barulho. Outro ainda comenta que o cunhado deixou apressadamente seu apartamento durante uma visita, com medo que o prédio desabasse.

As histórias se sucedem, todas muito tristes. Em comum, a revolta contra a Caixa, os construtores e a Prefeitura, além de isentar a Ford de qualquer responsabilidade. Afinal, a empresa já estava lá há muito tempo.