Formação, primeiro emprego e esperança

Vinte dos 2.000 mil jovens que participam do Consórcio Social da Juventude de São Paulo têm deficiência visual. Se o mercado de trabalho exclui os jovens, exclui muito mais quem porta uma deficiência.

Nem por isso eles se deixam abater. Agarraram a oportunidade, pensam em se qualificar, em se formar e vão à luta com esperança.

Comunicação

“Quero ser revisor de textos em braille”, diz Alessandro de Souza Santana, que também pretende fazer faculdade de letras e trabalhar em alguma área de comunicação.

Daniel Domingues, que tem a visão reduzida,  também quer enveredar na área de comunicação. “Já mandei currículos para as tevês Record e Cultura e para o jornal Estadão. Desenho muito bem”, fala com orgulho.

Informática

Fernando José da Silva planeja estudar ciência da computação. “Fui instrutor de Virtual Vision (programa de voz para pessoas com deficiência visual)”, conta ele, que já trabalhou como professor particular nessa área. “Foi um trabalho informal”, explica.

Pelo mesmo caminho quer seguir Bruno Florêncio dos Santos. “Já conhecia informática e ajudei muito o instrutor em sala de aula”, descreve o jovem que planeja se especializar na área.

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Quem já não ouviu essa frase depois de preencher uma ficha ou participar de entrevista de emprego. Foi o que a garotada do Consórcio Social mais ouviu nos últimos tempos.

Isto porque, além de qualificar e ampliar o nível de escolaridade, a participação no Consórcio melhora a auto-estima dos jovens. “A partir daí eles se tornam mais ousados, saem mais para procurar um emprego”, explica a pedagoga Tânia Medeiros Acien, do Centro de Apoio ao Deficiente Visual (Codevi), entidade parceira do Consórcio.

Fernando José da Silva, que conhece informática, prestou sua última entrevista no Serasa (empresa que verifica cadastro de consumidores, como cheques sem fundo). “A resposta foi: aguarde”, diz, resignado.

Wagner da Silva também espalha seu currículo. “Tenho experiência em rotina de escritório, mas não consigo nada”, afirma.

Daniela dos Santos e uma amiga foram escolhidas num processo seletivo para operadoras de telemarketing. “Quando disse que precisava de um programa como o Virtual Vision para operar o computador, não fui aceita”, lembra com certo ressentimento.

Cabeça erguida

Essas três experiências comuns, no entanto, não os desanima. Ela é parte de uma realidade que os jovens portadores de deficiência convivem. “A gente luta para viver e vive para lutar. Temos de superar as barreiras que nos são impostas e provar a nossa autonomia”, considera Fabíola Cristina Marques.

Para Raimilson Damacena Santos, as barreiras existem pelo  preconceito e a falta de informação que existe sobre a capacidade das pessoas com deficiência. “Cabe a gente mostrar que é capaz”, enfatiza.

“Temos de acreditar que somos melhores”, responde Flávio dos Santos.

Programa prepara para o trabalho

O Consórcio Social da Juventude é um programa do Ministério do Trabalho que reúne entidades parceiras em várias regiões do País para qualificar jovens e melhorar o nível de escolaridade.

O Centro de Apoio ao Deficiente Visual (Codevi) é uma dessas entidades. Nele, relata a pedagoga Tânia Medeiros Aciem, os jovens têm noções de mobilidade para se locomoverem em locais públicos, elevação do nível de escolaridade, aprendem matemática, telemarketing, massagem, informática e outras matérias. Também participam de ações voluntárias. “Junto com suas experiências pessoais e as adquiridas nesse processo de formação eles se sentem melhor preparados e mais confiantes na busca do primeiro emprego”, afirma Tânia.

O jovem Ederson Ramos Bonomi confirma: ” Aprendi muito e estou preparado para fazer bem o meu trabalho”, conta o rapaz, que espera conseguir seu