Forno, fogão e favela
Pesquisa recente realizada no departamento de teoria literária da Universidade de Brasília sobre personagens do romance brasileiro contemporâneo revela que eles espelham a situação dos afrodescendentes na sociedade brasileira.
Foram analisados 258 romances publicados entre 1990 e 2004 pelas editoras Record, Rocco e Companhia das Letras, consideradas as mais importantes do mercado editorial para a ficção nacional.
Os resultados da pesquisa são significativos: 61% dos personagens são homens; 80% são brancos, contra 8% negros e 6% mestiços.
A pesquisa mostra também que 73,5% dos personagens negros são pobres, 12,2% deles miseráveis; mais de 90% de todos os personagens integrantes da elite intelectual são brancos.
O objetivo da pesquisa foi analisar a ausência da representação ou a representação estereotipada de determinados grupos dentro da literatura, do ponto de vista de raça, religião e classe social, abordagem já realizada em relação às telenovelas por Joel Zito Araújo no livro e premiado documentário A Negação do Brasil.
A literatura, assim como os meios de comunicação, tendem a retratar a sociedade tal como ela é: desigual e excludente.
Nos romances, os personagens negros também ocupam posições subalternas na casa dos brancos ou vivem o drama cotidiano de violência e de pobreza presentes nas favelas.
Dá para imaginar um quadro diferente? O que é preciso mudar na sociedade brasileira para que os afrodescentes possam ser retratados, na literatura e na televisão, sem o viés da exclusão, do preconceito e da discriminação racial?
Departamento de Formação