Fórum Social Mundial|No berço da humanidade

“A presença do Fórum Social Mundial na África tem significado simbólico muito grande. O melhor conhecimento que temos diz
que a África é a mãe da humanidade. Encontramos aqui a nossa história
com raízes muito mais profundas do que aquilo que a história do
Ocidente conta”

Por Flávio Aguiar

Logo ali
Aldeia Masai, a apenas 60 quilômetros ao sul do 7º Fórum Social Mundial

A frase de abertura ao lado é do teólogo e frei Luis
Carlos Susin, de Porto Alegre. A observação, feita à reportagem em
pleno conjunto esportivo Moi (nome de um dos ex-presidentes do Quênia),
nos arredores de Nairóbi, define a importância da realização da sétima
edição do Fórum Social Mundial (FSM) no continente africano. Frei Susin
ali estava pelo FSM em si, realizado de 19 a 25 de janeiro, e pelo 2º
Fórum Mundial de Teologia e Libertação, ocorrido alguns dias antes.

Desde
sua primeira edição, em janeiro de 2001, em Porto Alegre, o Fórum
Mundial já teve sede em três continentes: a América (Porto Alegre,
2001, 2002, 2003 e 2005), a Ásia (Mumbai, na Índia, 2004) e agora a
África. Em 2006, a edição teve três partes: a primeira em Bamako, no
Mali (África), a segunda em Caracas, na Venezuela (América) e a
terceira em Karashi, no Paquistão (Ásia). Além disso, o processo tem
desencadeado uma série de fóruns temáticos ou regionais: o Europeu, o
Mediterrâneo, o Pan-Amazônico, o de Juízes, o da Educação, o
Parlamentar, o das Águas, o da Teologia e Libertação. Essa movimentação
tornou-se um dos principais espaços de contestação à globalização
conservadora, ao Consenso de Washington, ao neoliberalismo e ao Fórum
Econômico Mundial de Davos, na Suíça, que se realiza todo ano na mesma
época.

Os números são sempre
espantosos. Estima-se que a marcha de abertura deste ano tenha tido 250
mil participantes. Em Nairóbi, o número de inscritos chegou perto de 50
mil, enquanto o de participantes foi estimado em mais de 70 mil, e isso
num continente em que alguns foram em caravanas pelo deserto e pelos
altiplanos.

A frase de frei
Susin espelha um sentimento comum que atravessa todos os Fóruns: sua
própria realização é um acontecimento, uma conquista. Não foi diferente
no Quênia. Mais até: desta vez, em que se enfrentaram muitas
dificuldades e precariedades, a sensação de vitória foi intensificada.

O
FSM não é apenas um “evento”. É muito mais que isso, é um processo,
como enfatizam vários de seus organizadores históricos, entre eles o
brasileiro Chico Whitaker: “Desde o primeiro Fórum nos demos conta de
que o processo que estava sendo iniciado, e tem como ponto de apoio os
eventos, tinha de se espalhar pelo mundo todo. Os africanos pediram
isso, para que pudessem encontrar seus caminhos. Objetivamente este
Fórum é um acontecimento histórico para a África. Nunca os africanos
tiveram a oportunidade de tantas organizações diferentes se
encontrarem. A África dividida em pedacinhos pelos colonizadores de
repente se encontrou aqui e tomou conhecimento de suas lutas muito
variadas. A África não será mais a mesma”.

Voz aos cidadãos

Outra não foi a sensação de Taufik ben Abdallah, do Senegal, um dos
membros do comitê africano organizador do Fórum. “É importante que o
movimento africano possa mergulhar também nesta busca de alternativas.
Traz, para nossos movimentos, um novo fôlego, tem um impacto político,
mas também um impacto social. Aqui temos milhares de movimentos, de
cidadãos de todo o continente. Esses movimentos estão em contato com
outros milhares de pessoas em seu cotidiano, nos países de origem. E
transmitirão por toda parte o impulso que ganharam aqui”, disse
Abdallah. “Haverá novas campanhas de sensibilização, serão
imp