Francisco: a voz do Papa do Povo em defesa dos trabalhadores
Sindicato lembra trajetória de vida e luta do primeiro pontífice latino-americano e jesuíta da história da Igreja Católica

Em um tempo marcado por retrocessos sociais, aumento da desigualdade e ataques aos direitos da classe trabalhadora, os Metalúrgicos do ABC destacam a importância de reconhecer as lideranças que ousaram se levantar em defesa da dignidade humana. Uma dessas vozes, talvez a mais firme e sensível dos nossos tempos, se calou nesta segunda-feira, 21. Aos 88 anos, faleceu Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, primeiro pontífice latino-americano e jesuíta da história da Igreja Católica.
Desde que assumiu o papado, em 13 de março de 2013, Francisco se tornou símbolo de esperança para milhões. Com um estilo simples, mas profundamente comprometido com as causas sociais, ele aproximou a Igreja dos pobres, dos trabalhadores, dos migrantes e das grandes questões do nosso tempo. Filho de um ferroviário, cresceu em Buenos Aires e conheceu, desde cedo, os desafios enfrentados pelas famílias da classe trabalhadora, vivência que moldou seu olhar pastoral e social.

Sua trajetória na Igreja refletiu esse compromisso. Ao ser ordenado padre em 1969, atuou nas periferias da Argentina e, como arcebispo de Buenos Aires a partir de 1998, optou por viver de forma simples e andar de transporte público. Como Papa, escolheu o nome Francisco em homenagem a São Francisco de Assis, gesto que já anunciava seu pontificado voltado à humildade, à justiça e à paz.
Em seu primeiro ano, Francisco afirmou: “Este sistema não aguenta mais. Não ao dinheiro que governa, sim à dignidade da pessoa humana”. E, ao receber dirigentes sindicais em 2014, declarou: “O trabalho é sagrado. Um sindicato é um guardião da justiça social”.
Nas encíclicas Laudato Si’ (2015) e Fratelli Tutti (2020), denunciou a degradação do planeta e das relações humanas. Reafirmou que a crise ambiental e social são frutos de um mesmo sistema que lucra com a destruição e a exclusão. Defendeu uma nova lógica baseada no cuidado, na solidariedade e na fraternidade entre os povos.

Nas trincheiras
Durante 12 anos de pontificado, Francisco percorreu mais de 60 países, em 47 viagens internacionais que uniram diplomacia, fé e humanidade. A primeira visita foi ao Brasil, na Jornada Mundial da Juventude, onde ficou conhecido como o Papa da simplicidade. Depois, vieram atos históricos: orações na Terra Santa com líderes judeus e muçulmanos, pedido de paz entre Israel e Palestina, encontro com o Patriarca Ortodoxo Bartolomeu I e com o aiatolá Al-Sistani no Iraque.
No plano geopolítico, foi fundamental à reaproximação diplomática entre Cuba e Estados Unidos. Visitou ambos os países em 2015, reuniu-se com Fidel Castro, discursou na ONU (Organização das Nações Unidas) e se tornou o primeiro Papa a falar no Congresso americano, onde defendeu os imigrantes e os trabalhadores.
Francisco foi pioneiro ao pisar em zonas de guerra, como a República Centro-Africana, ao visitar campos de refugiados, como em Lesbos, na Grécia, e ao pedir desculpas públicas pelos abusos cometidos pela Igreja contra os povos indígenas do Canadá. Condenou a islamofobia, o racismo, o antissemitismo e todo tipo de extremismo religioso.
E não hesitou em tocar nas feridas da própria instituição: no Chile, pediu perdão às vítimas de abuso clerical. No Peru, reuniu-se com povos da Amazônia e defendeu com firmeza os direitos dos povos originários e a preservação ambiental. Em Córsega, na França, fechou sua última viagem apostando, mais uma vez, no simbolismo da presença e no poder do diálogo.
Mesmo sem retornar à Argentina, nunca se afastou do espírito latino-americano. Foi um defensor incansável dos trabalhadores, da reforma agrária e da justiça econômica. “Nenhuma família sem teto, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos”, repetia sempre que encontrava líderes populares e sindicais. Denunciou o trabalho análogo à escravidão, os acidentes laborais e o enfraquecimento da proteção social.
Com sua fé inabalável, seu carisma acessível e seu compromisso com os que mais sofrem, sua voz ecoará nas trincheiras, nas igrejas, nas fábricas e nas ruas, onde ainda se luta por um mundo com mais igualdade, dignidade e paz.
Um Papa ao lado da classe trabalhadora
Segunda-feira, 21 de abril de 2025. O mundo perde uma liderança incomparável. Papa Francisco encerra sua missão neste plano aos 88 anos, deixando um legado que atravessará gerações. Desde que assumiu o papado, em 2013, em um cenário global de tensões e retrocessos, ofereceu ao mundo não apenas esperança, mas direção.
Francisco emergiu como farol num tempo marcado por profundas incompreensões. Enfrentou um mundo cada vez mais desigual, onde a desumanização se tornava regra, e os discursos de ódio ganhavam corpo e espaço, embalados pelo avanço da extrema direita e da lógica fascista.
Testemunhamos, ao longo da última década, o aumento da fome e da miséria, os ataques sistemáticos ao movimento sindical, aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, a propagação desenfreada das fake news, o crescimento da intolerância e da perseguição às minorias e aos mais vulneráveis. Nesse cenário árido, Francisco se ergueu como uma liderança de coragem e, acima de tudo, de profunda sensibilidade humana.
Com uma escuta atenta e um olhar compassivo, foi capaz de compreender e absorver os dilemas da humanidade. Sua defesa incondicional da paz mundial, do meio ambiente, da democracia e da dignidade humana está eternamente gravada na história. Da mesma forma, sua postura firme na valorização dos sindicatos e na defesa dos direitos trabalhistas mostrou ao mundo que fé e justiça social caminham juntas.
Francisco será lembrado como o Papa da periferia, da inclusão, da esperança. Um líder espiritual que fez da sua missão um compromisso político e humano em defesa da igualdade, da fraternidade e da justiça social.
Para Francisco, toda família tinha direito a um lar. Todo camponês, à sua terra. Todo trabalhador e trabalhadora, aos seus direitos.
Sua trajetória foi marcada por uma preocupação genuína com a classe trabalhadora: denunciou o aumento dos acidentes de trabalho, criticou a precarização das relações laborais, o trabalho análogo à escravidão e a exploração de jornadas exaustivas. Defendeu o papel essencial das entidades sindicais na construção de uma sociedade justa. Em suas palavras: “Não existe uma boa sociedade sem um bom sindicato e não há um bom sindicato que não renasça todos os dias nas periferias”.
As ideias de Papa Francisco não morrem com ele. Permanecerão vivas na memória coletiva da humanidade e em todos aqueles e aquelas que acreditam em um mundo mais justo, humano e fraterno.
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC