Frangão e Wagner Lima fazem um balanço da greve na Volks
O coordenador geral da representação dos trabalhadores na Volks, em São Bernardo, Reinaldo Marques da Silva, o Frangão, e o vice-coordenador, Wagner Lima, fizeram um balanço sobre os 11 dias de greve na montadora, encerrados na última sexta com o cancelamento das 800 demissões anunciadas pela empresa.
Tribuna Metalúrgica – Qual é sua avaliação do movimento?
Reinaldo Marques da Silva, o Frangão – Independente de nossa categoria, que tem vivência na questão de greve, essa pode não ter sido a paralisação mais extensa, com duração de quase duas semanas, mas foi das mais intensas dentro do histórico que a gente tem no movimento sindical. Intensa pelo momento que a fábrica vive, pela situação da economia, pela trajetória do nosso Sindicato e pelos desafios que estamos enfrentando.
Uma coisa é inegável, podíamos até ter dúvidas se a peãozada ‘compraria’ a greve ou não, porque temos um grupo dentro da fábrica muito novo e não têm essa vivência dos momentos de crise, dos momentos de greve, de paralisações, mas vimos que o DNA do metalúrgico do ABC está contido neles, que não arredaram pé, se mantiveram unificados. O que pensávamos em resgatar, que é a solidariedade, está resgatado. Não temos mais dúvida, nem agora e nem para o futuro.
TM – Qual foi o momento mais difícil nestes dias?
Frangão – Um dos momentos mais difíceis não tem a ver com a participação dos trabalhadores, mas em convencer a diretoria da Volks. Convencer uma parcela de representantes da empresa que parece ainda viver no passado, apostando no conflito e querendo, já que a fábrica estava parada, vencer os trabalhadores pelo cansaço.
Esse é um tipo de política que a própria matriz na Alemanha discorda. Na Alemanha, ao contrário, a livre negociação é estimulada e o processo de discussão é permanente para encontrar o melhor caminho.
Nossa maior dificuldade foi convencer uma parte da direção disto.
TM – O que será levado para o futuro?
Frangão – Já ouvi declarações do próprio Lula sobre as dificuldades, em momentos de crise, de passar uma mensagem para a companheirada e a base não ouvir a direção do Sindicato.
Hoje, o estreitamento que aconteceu, pela intensidade da greve, aproximou os trabalhadores da representação sindical. O Sindicato cresce muito com isso e não fica restrito ao ambiente da fábrica. O que os trabalhadores fizeram na Volks dará uma condição melhor para enfrentar outros desafios. O que construímos aqui irá irradiar para toda a categoria.
Tribuna Metalúrgica – Qual é sua avaliação do movimento?
Wagner Lima – Foi um momento de aprendizado para o trabalhador e para nós da representação. Há muito tempo não tínhamos um movimento como esse aqui dentro, com tanta unidade. Eram vários pensamentos, o que muitas vezes dificultava a chegada a um resultado e criava uma divisão entre os trabalhadores.
Uma divisão de ideias que era construtiva, mas nesse momento a unidade em torno do trabalhador, do Sindicato em relação ao pensamento de reverter essas demissões, foi o ponto positivo.
Tínhamos dúvida se de fato os companheiros mais novos iam fazer o enfren¬tamento e aderir ao movimento. E eles provaram para nós, sindicalistas, e para a empresa que mesmo não tendo experiência eles têm lado e é o lado do Sindicato.
TM – Que momento foi mais difícil nestes dias?
WL – O momento mais difícil foi na mesa de negociação quando a empresa falava que não traria os 800 companheiros de volta, que uma parte não deveria retornar para a fábrica.
E nós não aceitávamos deixar uma parte dos trabalhadores de fora. Esse foi um momento tenso na mesa de negociação, mas teve um final feliz e conseguimos trazer todos de volta.
TM – O que será levado para o futuro?
WL – Junto aos trabalhadores, resgata o Sindicato atuante, que muitos não conheciam porque são novos na categoria e não tinham essa experiência. Agora eles viram de fato o que é a luta.
Muitos tinham aquela dúvida se era tudo combinado, por estarem fora da mesa de negociações e a gente ouvia isso dentro da fábrica. Pelo momento de mercado que a gente vive, muitos problemas se resolvem na mesa de negociação.
Porém, na relação entre capital e trabalho tem momentos em que são decretadas greves. E sempre será assim, quem acreditar que a empresa vai resolver as coisas porque fizemos esse movimento está enganado. Fizemos esse e teremos que fazer outros para equilibrar a correlação de forças constante e temos sempre que estar atentos. A empresa sempre tentará tirar vantagens do trabalhador. Isso é o que fica, sempre temos que estar atentos a essa relação entre capital e trabalho.
“Nunca perdi a esperança!”
Após 11 dias em greve, os 13 mil trabalhadores dos três turnos na Volks, em São Bernardo, retornaram ontem ao trabalho com a sensação de alívio pela conquista.
“Foi emocionante demais”, declarou Valdir Gabriel, na Ala 5 – antigo PTO –, 24 anos na Volks. “Na hora da votação eu estava no pátio da fábrica erguendo os braços para aprovar a nova proposta e ratificar a vitória da categoria”, disse emocionado.
Como Valdir, muitos outros companheiros que entraram em greve voltavam ao trabalho ontem. Leia ao lado alguns depoimentos de quem participou desta esta luta.
Da Redação