Gênio em campo e contestador fora dele, Maradona defendeu seu país no futebol e na política

Ídolo do futebol morreu ontem aos 60 anos deixando uma legião de fãs pelo mundo

Foto: Divulgação

Senhor do futebol, ídolo de toda uma geração, defensor das lutas dos mais pobres, dos movimentos sociais e dos trabalhadores., Diego Armando Maradona morreu na tarde de ontem, aos 60 anos, em sua casa em Tigre, na Argentina, após uma parada cardiorrespiratória. O craque argentino havia sido operado no dia 6 de novembro para remover um hematoma na cabeça.

O menino da periferia iniciou carreira aos 16 anos, em 1976, mas sua consagração veio em 1986 por sua atuação épica que levou a Copa do Mundo, pela segunda vez, para a Argentina. A vida do “Pibe de Oro’ (garoto de ouro) foi marcada pela genialidade em campo, pela luta e contestação política fora dele e pelo drama pessoal devido à dependência química.

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O jornalista esportivo José Trajano, que apresenta na TVT de segunda a sexta, às 18h30, o programa ‘Papo com Zé Trajano’, conversou com a Tribuna sobre todos esses aspectos que levaram Maradona a ser o que foi, um dos maiores ídolos do futebol de todos os tempos.

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O mais humano dos deuses

O Maradona morreu várias vezes, já havia uma expectativa em torno da morte dele, com toda certeza os jornais argentinos e alguns de fora da Argentina já tinham o obituário dele preparado. Porque várias vezes ele foi internado muito mal. Tem uma frase do escritor uruguaio Eduardo Galeano que diz uma coisa muito bonita, “ele era o mais humano dos deuses”, porque ele era um deus no futebol, principalmente para os argentinos, era um gênio.

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Contestador

Ele não se continha, não se calava, era indignado, tinha uma personalidade muito forte, uma personalidade única. Encarou a FIFA, reclamou da organização da FIFA várias vezes, dos horários dos jogos em copas do mundo, chamou os dirigentes de corruptos, com toda razão.

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Um homem de esquerda

Ele era um homem de esquerda. Tinha adoração por Fidel Castro, até uma coincidência louca, fez quatro anos da morte do Fidel. Ele tinha uma tatuagem do Fidel e uma do Che Guevara. Sabia tudo e adorava a história de vida do Che, que também era argentino como ele. Era amigo do Hugo Chaves, se posicionou contra o impeachment da Dilma e contra a prisão do Lula. Teve também presença forte na política Argentina, era inimigo do Macri (ex-presidente) que tinha sido presidente do Boca, time do qual ele era ídolo, apoiava a Cristina Kirchner e o atual presidente Alberto Fernández.

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Idolatria

O Maradona é um dos maiores ídolos do futebol de todos os tempos e em qualquer lugar. Era idolatrado pelos napolitanos, na Itália, é impressionante. Por onde passava era reverenciado como um gênio do futebol. É muito louco, não dá para entender bem, não sendo argentino, essa idolatria que existe na Argentina, com até uma igreja com o nome dele. Quando eu estava na ESPN transmitia o jogo de despedida pelo Boca, foi uma loucura, as pessoas choravam, crianças, mulheres, torcedores aos prantos.

Deus do futebol

Ele virou Maradona deus do futebol pelo talento. Fez o gol mais bonito da história das Copas, ninguém ganha sozinho, mas no caso dele pode-se dizer que ganhou.

Posicionamento político em extinção

Acho que ele é único. Por mais que tenham jogadores que se posicionem hoje, tem o Juninho Pernambucano, o Richarlison, que já falou do assassinato em Porto Alegre e do apagão no Amapá, mas não tem o tamanho do Maradona. Se alguém pode ser comparado ao Maradona pela atividade política seria o Sócrates, que tinha esse envolvimento, personalidade, era um ser político. Se alguém pode ser comparado ao gênio do futebol que teve vida trágica, não com todas as letras, mas seria o Mané Garrincha que morreu cedo e triste, tentava voltar a jogar e não conseguia, foi jogador do tamanho do Maradona.

Maradona ganhou em 2000 eleição popular feita pela Fifa na internet para eleger o melhor jogador do século 20. Com 53,6% dos votos superou Pelé.
A carreira do craque começou para valer em 1976, quando foi contratado pelo Argentinos Juniors. Ele já jogava e chamava atenção desde os nove anos.
Aos 16 anos, estreou na principal seleção de seu país em jogo contra a Hungria. Porém, não foi inscrito na Copa do Mundo de 1978 na Argentina.
No ano seguinte, o meia liderou a seleção argentina na conquista do Mundial sub-20 no Japão e foi eleito o melhor jogador da competição.
Após ser cinco vezes artilheiro de torneios na Argentina sem levar o Argentinos Juniors ao título, conquistou em 1981 o Metropolitano pelo Boca.