Geração de empregos surpreende e mercado alarmista reage

Economia brasileira surpreendeu ao criar 137,3 mil vagas formais em janeiro, quase o triplo da projeção do mercado, que esperava cerca de 48 mil

Após a divulgação dos dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) na última quarta-feira, 26, o dólar disparou e fechou em alta de 0,83% frente ao Real, a R$ 5,80. O motivo? A economia brasileira surpreendeu ao criar 137,3 mil vagas formais em janeiro, quase o triplo da projeção do mercado, que esperava cerca de 48 mil. Para o Sindicato, o crescimento acima do esperado confirma que a economia continua aquecida. No entanto, o mercado financeiro se preocupa com a criação de novos empregos dizendo que isso pode levar à alta da inflação.

Segundo o secretário-geral dos Metalúrgicos do ABC, Claudionor Vieira, o mercado é, no mínimo, sabotador do desenvolvimento e defende o atraso. “Esse é o mercado que é contra a geração de empregos. Infelizmente, setores da imprensa flertam com essa postura. Nos últimos meses, estamos vendo uma atuação muito forte no sentido de criar uma instabilidade na economia brasileira, com reações histéricas no que diz respeito à insenção do IR [Imposto de Renda], por exemplo, para quem ganha até R$ 5 mil, criando um discurso de terrorismo, fazendo o dólar subir às alturas e elevando a inflação”.

Foto: Adonis Guerra

“Esse é o mesmo mercado que tem errado sucessivamente com relação ao crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] do país. Será que é erro mesmo ou é má-fé?”, questionou o dirigente. “A taxa de desemprego hoje é de 6,5%, ou seja, o Brasil vive uma situação de pleno emprego. Isso significa que as pessoas estão tendo trabalho, emprego e renda, e isso é o que o povo precisa para viver com dignidade.  Há, pelo menos, dois anos, o Brasil tinha mais de 10 milhões de desempregados, milhares de desalentados e o mercado estava feliz. Afinal de contas, nesse período, o povo estava na fila do osso buscando restos para se alimentar. Afinal, meus companheiros e companheiras, esse é o país que o mercado quer de volta: o da fome, do desemprego, o país da fila do osso”.

Mídia comprometida com o mercado

Para Claudionor, se não bastasse isso, o alarmismo da mídia tende a causar mais ansiedade do que clareza sobre a realidade econômica, sem a preocupação em separar fatos reais de uma reação exagerada.

Na edição da Folha de São Paulo do dia, uma matéria já apontava questionamentos de instituições do mercado à alta no Caged: “O crescimento econômico muito rápido, sem controle, pode levar a uma desaceleração brusca, criando uma recessão futura. Quando a economia aquece demais e a inflação sobe, é preciso ‘esfriar’ a economia. Se isso não for feito de forma adequada, bem calibrada, você pode acabar tendo um problema no longo prazo da economia. Então, esse é um pouquinho do medo que a gente [do mercado] teve”, diz a matéria.

“Neste caso, o mercado continua, mais uma vez, na contramão do desenvolvimento do país”, destacou Claudionor.

Setores em alta

O emprego cresceu em quatro dos cinco principais setores da economia. A Indústria liderou a geração de vagas, com 70.428 novos postos de trabalho com carteira assinada, sendo 49,8 mil para jovens de até 24 anos. Esse crescimento reflete o bom desempenho do setor: em 2024, a produção industrial cresceu 3,1%, o terceiro melhor resultado em 15 anos, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Em janeiro de 2024, o governo federal lançou o programa NIB (Nova Indústria Brasil), com R$ 1,2 trilhão em investimentos, incluindo recursos do Plano Mais Produção e do Plano de Transformação Ecológica. Outros setores também registraram alta: Serviços (+45.165 empregos), Construção Civil (+38.373) e Agropecuária (+35.754). Apenas o Comércio teve saldo negativo, com a perda de 52.417 empregos.

Ainda segundo o Caged, a região Sul liderou a criação de empregos no mês, com um saldo positivo de 65,7 mil vagas. Na sequência, aparecem o Centro-Oeste (44,3 mil), o Sudeste (27,7 mil) e o Norte (1,9 mil). Já o Nordeste teve o fechamento de 2,6 mil empregos. O salário médio de admissão ficou em R$ 2.251,33 em janeiro, contra R$ 2.162,32 em dezembro e de R$ 2.210,58 em janeiro do ano passado.