Golpe completa quatro anos com suas consequências previstas
A história é recente, mas é preciso reforçar para a classe trabalhadora o que significou o golpe contra a democracia, contra os direitos e contra a população
“O golpe é contra os movimentos sociais e sindicais e contra os que lutam por direitos em todas as suas acepções: direito ao trabalho e à proteção de leis trabalhistas; direito a uma aposentadoria justa; direito à moradia e à terra; direito à educação, à saúde e à cultura; direito aos jovens de protagonizarem sua história; direitos dos negros, dos indígenas, da população LGBT, das mulheres; direito de se manifestar sem ser reprimido. O golpe é contra o povo e contra a nação. O golpe é misógino. O golpe é homofóbico. O golpe é racista. É a imposição da cultura da intolerância, do preconceito, da violência”.
Este é um trecho do discurso feito pela ex-presidenta Dilma no dia 31 de agosto de 2016, há quatro anos, quando, por 61 votos favoráveis e 20 contrários, o Senado aprovou o pedido de impeachment que a retirou do cargo. Ela e seus apoiadores sabiam que havia muita coisa por trás daquela decisão.
Todos os itens citados no discurso, um a um, foram se confirmando de forma escancarada. Não houve disfarce por parte dos golpistas, assim que ela deixou a cadeira presidencial, eles começaram a agir inescrupulosamente.
Ainda sob a condução do ilegítimo Temer, o país enfrentou a aprovação da PEC dos Gastos, que congelou investimentos em saúde e educação por 20 anos, da reforma Trabalhista e da Lei de Terceirização irrestrita, já sob Bolsonaro veio a reforma da Previdência. Exatamente como ela alertou: o golpe é contra o “direito ao trabalho e à proteção de leis trabalhistas; direito a uma aposentadoria justa”. Para alguns não pareceu grave, apenas necessário para ajustar as contas…
Desde que a extrema direita tomou de assalto o Brasil, apoiada pelo discurso de ódio, o “direito à moradia e à terra” voltou a ser papo de elite, a tal meritocracia.
Apesar da falta de dados precisos, o aumento da população em situação de rua é gritante e pode ser observado em uma curta volta pelas cidades mais populosas. Dados do censo da prefeitura, de janeiro de 2019, apontavam que somente na cidade de São Paulo havia um salto de 53% em relação a 2015. Outros não se importaram, eles têm suas casas porque mereceram…
A então presidenta já anunciava que o golpe era também contra o “direito à educação, à saúde e à cultura; direito aos jovens de protagonizarem sua história”. Em um ano e meio de governo Bolsonaro o país já teve três diferentes ministros da educação envolvidos em polêmicas e nenhuma, absolutamente nenhuma ação positiva que pudesse, por exemplo, ajudar estudantes e professores a passarem por este momento de pandemia com o mínimo de condições para dar continuidade aos estudos. Neste caso mais gente começou a se preocupar…
Na saúde e na cultura a situação não é diferente. Em meio a uma pandemia grave que já tirou a vida de mais de 120 mil pessoas, seguimos sem ministro da saúde e os que tentaram trabalhar, foram afastados. A cultura não tem mais ministério, apenas uma pequena secretaria, cuja primeira convidada já abandonou o cargo e o seu ocupante agora é totalmente insignificante para o setor. “Saúde é importante, mas cultura também?”, se perguntaram alguns…
E para terminar de dissecar o discurso “profético”, falta falar do golpe contra “direitos dos negros, dos indígenas, da população LGBT, das mulheres”. Não precisamos detalhar números, eles estão todos os dias nas manchetes dos jornais. O próprio ministério criado neste governo que engloba mulher, família e direitos humanos segue na contramão de qualquer discurso que seria necessário para coibir atitudes racistas, machistas e misóginas, ou seja, segue na mão certa do que quer este governo. Neste quesito ainda há muita gente que não se importa e segue achando que é mi mi mi…
Claro que para que o golpe fizesse sentido era preciso afastar de vez as chances de a esquerda voltar ao poder. Como muitas vezes já discutimos aqui, o ex-presidente Lula, que liderava as pesquisas de intenção de votos, foi impossibilitado de disputar as eleições, graças às manobras na Lava Jato feitas pelo então juiz Sérgio Moro, que tinha um acordo com Bolsonaro para ajudar a elegê-lo e se tornar seu ministro da justiça. Dito e feito…
Ah, é preciso lembrar que tudo começou com um discurso contra a corrupção e que hoje a “familícia” que ocupa o poder está envolvida até o pescoço em denúncias que já são manchetes nos mais importantes jornais internacionais. E agora?…
Para um ou outro leitor talvez algum dos ataques citados não tenha tanta relevância, mas se você, assim como nós, se indignou com todos os pontos, é hora de se perguntar: Até quando vamos aguentar?
“Proponho que lutemos, todos juntos, contra o retrocesso, contra a agenda conservadora, contra a extinção de direitos, pela soberania nacional e pelo restabelecimento pleno da democracia”, convocou à época Dilma e hoje nós reforçamos o chamado.