Golpe de 64 retirou direitos políticos e econômicos dos trabalhadores
Secretário-geral da Associação dos Metalúrgicos Aposentados do ABC, a AMA-ABC, José Fernandes
Há 51 anos, os trabalhadores de todo o Brasil sofreram um duro golpe, que não só acabou com as liberdades democráticas no País, mas também criminalizou o direito de organização em sindicatos e de lutar por melhores salários.
“Foi um período de trevas, com prisões, torturas e assassinatos”, relembrou o secretário-geral da Associação dos Metalúrgicos Aposentados do ABC, a AMA-ABC, José Fernandes (foto).
Segundo o dirigente, a perseguição aos trabalhadores não tinha limites e durante um período, as prisões eram por categorias determinadas e períodos estipulados pelos militares e por seus órgãos de repressão.
“Os chefes destas operações no regime militar, que podiam ser delegados, sargentos, tenentes entre outros, definiam que naquele mês iriam prender metalúrgicos, depois padres, depois jornalistas e assim por diante”, contou.
Ele mesmo só não foi preso, porque estava fazendo um curso na antiga União Soviética sobre reforma agrária.
“Quando aconteceu o golpe, eu era secretário-geral do Sindicato, fui o primeiro a ocupar este cargo e nem um ano depois fui cassado pela ditadura”, disse.
Para Fernandes, o que os trabalhadores têm que ter em mente sobre o regime militar é que além da violência indiscriminada contra a população em geral, a ditadura proibia que os trabalhadores reivindicassem reajustes salariais.
“O índice de aumento salarial era determinado pelos militares em acordo com os patrões e nem precisa dizer o que isso provocava no bolso do trabalhador, arrocho”, denunciou.
“Não há nenhum aspecto dos regimes ditatoriais que seja favorável ao trabalhador, nem do ponto de vista das liberdades democráticas e de opinião como cidadão, nem nos direitos trabalhistas, como o de reivindicar aumentos salariais ou de organizar-se em sindicatos”, completou.
José Fernandes era testador de motores na antiga Willys Overland, atual Ford, quando o Brasil sofreu o golpe de 64 e foi anistiado em 1985.
“Não há dinheiro que pague o sofrimento que passamos neste período”, lamentou.
Depois de contar sua história de luta, durante uma palestra em São Paulo e questionado por uma jovem com os olhos marejados, ele disse: “Por essas lágrimas e pela democracia, faria tudo de novo”.
Da Redação