Governo britânico anuncia corte de 25% nos gastos públicos em quatro anos
Novo orçamento prevê cortes adicionais de 30 bilhões de libras e redução de crescimento para 1,2%
O novo governo britânico anunciou nesta terça-feira o corte de 25% nas despesas públicas nos próximos quatro anos e uma série de aumentos de impostos para tentar conter o déficit público do país, que atingiu o maior nível de sua história.
Segundo o ministro das Finanças, George Osborne, que apresentou o Orçamento de emergência, ele tem como base o princípio da Justiça, com os mais abastados contribuindo mais para os cortes. “Este Orçamento de emergência é duro, mas também justo”, afirmou.
O novo orçamento prevê cortes adicionais de 30 bilhões de libras (cerca de R$ 78,5 bilhões) por ano além dos cortes de 50 bilhões de libras já previstos no Orçamento anterior. Ele também reduz a previsão de crescimento da economia britânica neste ano, de 1,3% para 1,2%.
Segundo Osborne, todos os departamentos do governo, com exceção do setor de saúde e de desenvolvimento internacional, terão que cortar suas despesas em 25% nos próximos quatro anos. Esses cortes serão detalhados em outubro.
Entre as demais medidas previstas no Orçamento estão a eliminação de uma série de benefícios sociais, o aumento do imposto sobre consumo, de 17,5% para 20% a partir de janeiro, a aceleração da elevação da idade mínima para aposentadoria para 66 anos, o congelamento dos salários dos servidores públicos por dois anos e uma nova taxação aos bancos, que poderia gerar 2 bilhões de libras anuais aos cofres públicos.
O governo britânico já havia anunciado há um mês cortes de 6,2 bilhões de libras (cerca de R$ 16,2 bilhões) em gastos públicos, incluindo congelamento na contratação de novos servidores públicos e cortes de alguns benefícios sociais.
Déficit
A coalizão governista, formada pelos Partidos Conservador e Liberal Democrata, promete praticamente eliminar em cinco anos o déficit público britânico – estimado em 156 bilhões de libras (cerca de R$ 408 bilhões), no nível mais alto da história.
Segundo os cálculos apresentados por Osborne, o déficit público deve cair dos atuais 10,1% do PIB para 1,1% do PIB num prazo de cinco anos.
Osborne afirmou que o nível de endividamento recebido do governo anterior é insustentável, e que somente uma ação imediata para conter o déficit evitaria uma perda da confiança do mercado em relação à Grã-Bretanha e o acúmulo de problemas financeiros no futuro.
Segundo ele, o novo Orçamento não é o ideal, mas o “inevitável”. “Não esconderei dos britânicos as escolhas difíceis que temos que fazer”, disse.
“Nosso governo herdou o maior déficit público de qualquer economia europeia, exceto a Irlanda. O medo sobre a sustentabilidade da dívida pública soberana é o maior risco à recuperação das economias europeias”, afirmou.
Críticas
O Partido Trabalhista, que governou a Grã-Bretanha entre 1997 e maio deste ano, diz que o novo Orçamento prejudica mais os mais pobres e acusa o governo de realizar cortes com motivação ideológica, com o intuito de reduzir o tamanho do Estado.
Os líderes trabalhistas dizem que a economia ainda está fraca demais para resistir a fortes cortes de gastos e afirmam que isso poderá levar o país de volta à recessão.
A líder trabalhista interina, Herriet Harman, disse que a maior preocupação do partido é em relação ao emprego.
“As pessoas não deveriam ficar sem trabalho como resultado deste Orçamento. Porque se isso acontecer, não é somente injusto com o indivíduo, mas também custa mais aos cofres públicos, e no final levará a aumentos de impostos”, disse.
“Precisamos reduzir o déficit, mas ele não pode ser reduzido de uma maneira que empurre a economia de volta à recessão e provoque a perda de empregos, porque se isso acontecer vai piorar ainda mais o déficit”, afirmou Harman.
Em um e-mail enviado a membros do Partido Liberal Democrata na noite da segunda-feira, o vice-premiê e líder do partido, Nick Clegg, afirmou que o déficit público é uma “bomba fiscal” que precisa ser controlada.
Ele negou as acusações de que os Liberal Democratas teriam “se vendido” após terem se colocado durante a campanha eleitoral de maio contra cortes rápidos de gastos por causa da fragilidade da recuperação econômica do país.
“Sempre argumentamos que os cortes seriam necessários, mas que o momento dos cortes deveria ser determinado pelas circunstâncias econômicas, não por dogma político”, disse. “A situação econômica hoje significa que o momento chegou”, afirmou.
“Esta é uma das coisas mais duras que jamais teremos que fazer, mas eu garanto que a alternativa é pior: dívidas crescentes, taxas de juros mais altas, menos crescimento e menos oportunidades”, disse.
Da BBC Brasil