Governo Lula vence queda de braço com a Vale
A empresa anunciou que vai investir US$ 12,9 bilhões em 2010 (R$ 24,5 bilhões). O plano foi divulgado após o governo federal falar da importância de a Vale aumentar a atuação no setor siderúrgico e agregar valor à sua produção
Na avaliação do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva venceu ontem a queda de braço com o presidente da Vale, o executivo Roger Agnelli, que foi travada nos bastidores nos últimos meses. Segundo argumentou um ministro que conversou com o presidente sobre o tema, a pressão feita pelo Palácio do Planalto nesses últimos meses funcionou, pois forçou a Vale a reavaliar seu plano de investimentos no Brasil, retomando a sintonia entre a mineradora e a União.
A expectativa de assessores do Palácio do Planalto é que o encontro de ontem (19/10) leve à reaproximação com a Vale, com o fim das pressões para a saída de Agnelli do comando da mineradora.
Até então, Lula não escondia sua contrariedade com as demissões anunciadas pela empresa no auge da crise econômica.Também explicitou discordância com o plano de investimento da mineradora, por não centrar recursos em siderurgia.
O presidente Lula tem externado sua defesa pelo investimento em siderurgia, o que daria maior valor agregado à produção da companhia. No Planalto, a percepção é que a Vale optou por uma posição de comodidade ao manter-se concentrada na venda de minérios para não competir com clientes internacionais.
MAIS INVESTIMENTOS
A Vale anunciou ontem (19/10) que vai investir US$ 12,9 bilhões em 2010, cerca de R$ 24,5 bilhões. O plano foi divulgado após a empresa sofrer pressão do governo para aumentar a atuação no setor siderúrgico e agregar valor a sua produção. O novo volume de investimentos para o próximo ano é superior aos US$ 9 bilhões anunciados para 2008, mas ainda inferior aos US$ 14,2 bilhões previstos para 2010 antes do estouro da crise econômica nos Estados Unidos. O presidente da Vale, Roger Agnelli, fez o anúncio do novo plano depois de uma reunião fechada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Paulo.
Do total previsto para 2010, 31% serão aplicados na área de não ferrosos; 30% na área de ferrosos; 21% em logística e 3% em siderurgia. “Trata-se do maior investimento no Brasil já realizado por uma empresa privada”, disse Agnelli. Ele passou quase duas horas reunido com Lula. Ele relatou ter dito ao presidente que, com o novo plano de investimentos, a produção da companhia até 2014 será de 450 milhões de toneladas de minério de ferro, contra as 350 milhões de toneladas previstas para este ano.
Em pronunciamento feito ontem, durante encontro com o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, Lula criticou a Vale, dizendo que a empresa precisa ampliar a venda de produtos de valor agregado e deixar de exportar matéria-prima. Em outro pronunciamento no fim da tarde, antes da reunião com Agnelli, Lula reclamou que a empresa deveria apresentar um plano de investimentos para 2010.
As cobranças de Lula em relação à Vale, da qual o governo federal é acionista, começaram depois da recente crise financeira, quando a ex-estatal demitiu 1,9 mil funcionários e enxugou os seus planos de investimentos no país. “Chega de ficar sentado na cadeira da Vale do Rio Doce, no gabinete do Rio de Janeiro. Tem que sair à rua e vender. Tem que disputar cada milímetro”, disse Lula em discurso pouco antes do encontro com Agnelli. Na reunião com o executivo, o presidente pediu que a Vale invista mais também na Colômbia. Agnelli garantiu que a mineradora vai aplicar US$ 380 milhões no país vizinho.
Lula vem reclamando da gestão de Agnelli desde que a empresa demitiu durante a crise e por causa de um suposto desinteresse da Vale de investir em siderurgia no Brasil. O maior problema, na visão do presidente, é que a ex-estatal acaba ditando tendências na economia ao tomar decisões importantes.
Ao presidente colombiano, Lula lançou um desafio que se estendeu aos empresários brasileiros e do país vizinho. “Vamos duplicar a corrente de comércio, que fechou 2008 em pouco mais de US$ 3 bilhões”, disse. Segundo ele, o montante atual de investimentos do Brasil na Colômbia, de US$ 1,3 bilhão, também poderia ser superior, caso os empresários se mobilizem. “O BNDES tem dinheiro para isso. Precisamos ter projetos” , ressaltou Lula.
O Globo, Correio Braziliense e Agências