Governo precisa reduzir juros e manter gastos sociais para garantir renda do trabalhador
A posição foi manifestada nesta quarta-feira em entrevista coletiva pelo presidente do Ipea, Marcio Pochman
O aumento da renda do trabalhador e a maior oferta de empregos que vêm ocorrendo desde 2005 só continuarão se o governo reduzir a taxa de juros básicos da economia, a Selic, e mantiver investimentos nas áreas de saúde e de educação, além de construir escolas e hospitais. Para isso terá que reduzir as despesas com pagamentos de juros da dívida pública.
A posição foi manifestada nesta quarta-feira em entrevista coletiva pelo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochman.
Estudo divulgado pelo instituto mostra que a principal fonte de renda do País em 2011 deverá vir do trabalho, caso a crise financeira internacional não atrapalhe, daí a recomendação de que o governo tome as medidas adequadas.
Segundo o estudo, a redução da Selic, que está hoje em 13,75% se justificaria porque não está havendo inflação de demanda, ou seja, aquecimento de consumo.
Marcio Pochmann lembrou que a distribuição de renda no Brasil vem melhorando em período bem recente, com a redução da desigualdade entre os que ganham mais e os que ganham menos. Ao mesmo tempo, está ocorrendo maior participação do salário na renda nacional.
“Toda vez que aumenta essa participação do salários na renda nacional há redução da desigualdade e há melhoria na distribuição de renda”.
A participação dos trabalhadores na renda nacional está atualmente em 40% do Produto Interno Bruto (a soma das riquezas acumuladas anualmente no país). Em 1980 essa relação era de 50% do PIB e nos anos 50 chegou a 56%.
Pochmann prega a necessidade de ser retomada a proporção dos anos 50, em vista da situação atual da economia, de forma a reduzir a desigualdade que existe entre a renda dos proprietários e a dos trabalhadores no país.
A partir de 1990 houve uma série de transformações no país, com o combate à inflação e à abertura da economia mundial, promovendo alterações na repartição da renda entre empregados e proprietários, que ganham a partir da própria estrutura econômica que têm.
Em 1990 os empregados (chamados no estudo de trabalhadores) tinham renda superior à dos proprietários, proporção que ficou reduzida com o passar do tempo, segundo o Ipea.
Somente em dois períodos nos últimos 17 anos, a renda dos trabalhadores cresceu no cenário nacional. Primeiro, entre 1996 e 2001 e agora desde 2005, graças à combinação entre a expansão do emprego e a remuneração dos trabalhadores, com a execução pelo governo de gasto público mais adequado visando a beneficiar as classes de baixa renda. Ao contrário do atual momento, na segunda metade da década de 90 esse crescimento por pago pelo forte endividamento interno e o crescimento constante da taxa de juros.
A desigualdade entre quem ganha mais e quem ganha menos não diminuiu, segundo Pochmann, mas a distribuição entre os trabalhadores melhorou. Ele advertiu, porém, que os bons sinais colhidos a partir de 2005 podem ficar comprometidos com a crise financeira internacional.
Pochmann alertou que as instituições financeiras não estão promovendo a expansão do crédito na medida do esforço do governo, que tem feito concessões. Segundo ele, essas empresas estão preferindo aplicar em títulos públicos ante a incerteza do momento, porque têm mais garantia de remuneração do que emprestar ao setor produtivo ou ao consumidor.
Da Agência Brasil