Governo quer mais exportação regional
Estratégia é exportar mais produtos industrializados para os países vizinhos e reforçar as medidas de proteção ao mercado brasileiro
O governo quer combater a queda do Produto Interno Bruto (PIB) com mais exportações de produtos industrializados. A ideia é intensificar as vendas na América Latina e nos demais emergentes e, para isso, poderão ser adotadas novas medidas de incentivo tributário e creditício.
O pontapé inicial da estratégia será o envio de uma missão empresarial a Peru, Colômbia e Chile na semana que vem com 43 empresários, contou ao Estado o presidente da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Maurício Borges. A escolha do governo se baseia no melhor poder aquisitivo, maior distribuição de renda e crescimento econômico dos últimos anos, apresentados pelos países do continente ao sul dos Estados Unidos, cuja economia deve continuar desacelerando nos próximos meses.
A intenção do governo é apoiar não apenas as vendas de produtos para a região, que costuma comprar artigos manufaturados de maior valor agregado, software e serviços, como assistência técnica e manutenção. O plano inclui, também, apoiar a instalação de empresas brasileiras na região, o que aumenta as exportações de partes e peças da matriz no Brasil para as filiais nos países latinos. Mesmo assim, a América Latina não é capaz, ainda, de substituir as vendas aos Estados Unidos, Europa e Japão, disse Borges.
No ano passado, a região comprou 18,4% das exportações brasileiras, uma receita equivalente a US$ 37,4 bilhões. Quase dois terços das mercadorias possuem alto valor agregado, segundo dados da Apex.
Defesa. Na outra mão, estão em estudo novas medidas para proteger melhor o mercado brasileiro do ingresso de importações com dumping ou subfaturadas. Esta semana, técnicos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior deverão reunir-se com o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, para discutir o assunto. A ideia é aplicar as medidas de defesa de forma mais agressiva.
“Estamos numa guerra e, numa guerra, você primeiro atira e depois pergunta”, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante reunião com empresários na quarta-feira, segundo um dos presentes. A proteção comercial foi longamente discutida, e os empresários frisaram que é preciso fortalecê-la. “Não vamos fazer papel de bobos”, foi outra frase do ministro, segundo anotou outro participante, Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib).
“Com a crise e o dólar do jeito que está, é complicado”, comentou Robson Andrade, ao explicar que medidas adicionais de proteção comercial precisam ser adotadas. Ele comentou que há forte ingresso de mercadorias subfaturadas. “Isso é crime”, disse.
Uma das propostas que a Receita Federal se comprometeu a estudar é a especialização de portos, ou seja, o ingresso de determinados produtos seriam concentrados em alguns pontos de entrada, que contariam com fiscais especializados, mais preparados para identificar subfaturamento e outras fraudes. Na quinta-feira, o ministério adotou medida inédita: evitar o ingresso de ímãs chineses que chegaram ao País como se tivessem sido produzidos em Taiwan, num truque para driblar a sobretaxa antidumping imposta pelo Brasil.
Para o presidente da CNI, o País precisa ser mais agressivo na defesa do mercado nacional e não se preocupar tanto com as restrições da Organização Mundial do Comércio (OMC). “Os países não ligam para isso. A China é uma economia de mercado e não segue a OMC; os Estados Unidos são o país com mais investigações em curso.” Essa tese, porém, não teve respaldo de Mantega. “O governo é legalista”, contou Andrade.
A proteção ao mercado, porém, não é o principal instrumento para evitar uma queda muito acentuada do PIB. No entender dos economistas do governo, isso será feito com mais exportações. Ao partir para a Argentina para uma reunião da Unasul, na sexta-feira, Mantega observou que os países vizinhos têm tido desempenho econômico melhor do que Europa e EUA.
“Queremos preservar isso, inclusive estreitando as relações e aproveitando melhor nossos mercados e nossas relações comerciais”, disse. Nessa mesma reunião, foi discutida a criação de um fundo de US$ 570 bilhões com recursos das reservas internacionais para socorrer os países-membros com dificuldades.
Do Estadão