Grandes perdem participação, mas ainda têm 70% do mercado
Juntas, as três maiores montadoras instaladas no Brasil são responsáveis por seis em cada dez carros vendidos. Elas têm exatamente 61,5% do mercado. Junto com a Ford, as quatro montadoras tradicionais dominam 70,9% do mercado.
Trata-se de uma distorção resultante do longo tempo em que as quatro tinham reserva de mercado. Até a abertura, em 1990, nenhuma outra empresa automobilística podia se instalar no Brasil. As importações também eram proibidas, de forma que não havia concorrência de qualquer espécie.
Os poucos carros importados que existiam no País, geralmente Mercedes-Benz, eram recomprados de embaixadas estrangeiras, depois de dois anos de uso, quando eram liberados para comercialização interna, ou trazidos por esportistas como prêmios por conquistas em competições internacionais.
A abertura do mercado não chegou a ameaçar as quatro grandes, pois nenhuma das montadoras novas entrou no segmento dos carros populares, participando apenas com carros médios, enquanto o segmento de luxo foi absorvido pelos importadores. Essa acomodação do mercado permitiu que as quatro grandes continuassem tendo domínio absoluto do mercado brasileiro.
Mais do que isso: a experiência de 40, 50 anos de atuação no Brasil, o conhecimento do mercado e a ampla rede de distribuição foram (e são) fundamentais para manter essa grande diferença de vendas em relação às novas.
No entanto, a cada dia que passa as grandes perdem participação e as pequenas crescem.
Nos nove primeiros meses deste ano as grandes perderam, juntas, 3,52 pontos percentuais de participação em relação ao mesmo período do ano passado, sendo que mais da metade foi da GM, que viu sua participação cair de 19,9% para 18,38%, perdeu portanto 1,52 ponto. Além de não acompanhar o crescimento de 6,7% no mercado verificado no período, a GM nem mesmo repetiu os números absolutos do ano passado. Nos nove primeiros meses de 2010 a empresa vendeu 471.345 unidades e no mesmo período deste ano 464.489.
A Ford também teve perda importante, caindo de 239.256 unidades de janeiro a setembro de 2010 para 235.826 este ano e perdendo 0,77 ponto de participação.
A vantagem das grandes é que o mercado está em franco crescimento, o que dá espaço para a expansão das novas e também a ampliação das vendas das quatro tradicionais. Assim, mesmo perdendo participação, estão aumentando o volume de vendas em números absolutos e ampliando os lucros, que é o que interessa às matrizes estrangeiras.
É o caso da Fiat e da Volkswagen, que tiveram crescimento nos nove primeiros meses do ano, mas perderam em participação. A Fiat saltou de 548.099 para 561.557 e a Volks de 495.085 para 520.471 unidades de janeiro a setembro, mas a primeira perdeu 0,92 ponto de participação e a Volkswagen 0,31.
Quase todas as pequenas estão aproveitando a queda das quatro grandes e comendo pelas beiradas. Com exceção da Peugeot, Honda e Toyota, todas as marcas classificadas no ranking das vinte mais vendidas conquistaram alguma fração de participação nos nove primeiros meses do ano, com destaque para as chinesas, a Kia, a Nissan, a Renault e a Citroën.
A Kia foi a marca que mais aumentou a participação: com venda de 62.812 unidades (contra 39.274 no ano passado), ela conquistou 0,83 ponto a mais.
Só no mês passado, a Kia vendeu 9.054 carros e o estoque de Picando, Sportage e Cerato com o preço antigo de esgotou. Quem comprou, ganhou, porque as novas remessas vão chegar com o novo IPI, embora o presidente da empresa, José Luiz Gandini, disse que vai aplicar o aumento do imposto de forma gradual, até o fim do ano.
A propósito, setembro foi uma correria às revendas de importados: BMW, Míni, Volvo, Lifan, Subaru e Audi aumentaram as vendas em mais de 15% em relação a agosto. Land Rover, Jinbei, Suzuki e Sangyong cresceram acima de 10%.
No acumulado do ano, a Nissan conquistou 0,71 ponto de participação. A JAC chegou este ano e já tem 0,69 ponto, enquanto a Chery sextuplicou as vendas, ficando com 0,48 ponto percentual.
Renault (+ 0,56 pp), Hafei, (+0,30) e Citroën (+0,29) também ficaram entre as marcas que mais aumentaram a participação no mercado este ano (veja tabela).
Pelo poder de fogo e pela penetração que têm no País, as quatro grandes ainda vão resistir muito, mas o processo de queda de participação em benefício das novas montadoras é inevitável. Elas sabem disso e se preparam para o dia em que terão que disputar o mercado em condições de igualdade com todas as outras. Até lá, vão usar todas as forças para não deixar que qualquer aventureiro lance mão do apetitoso mercado brasileiro.
A tendência do avanço das pequenas e a diminuição da participação das grandes vai continuar. Em nenhum mercado do mundo as quatro marcas mais vendidas têm uma participação de 70,52% do mercado. Mas no Brasil, especialmente depois da reação ao avanço das chinesas – como de diz: tudo é possível. O quarteto não vai entregar os pontos assim tão facilmente.
Da Agência Auto Informe (Joel Leite)