Gravidez precoce nas telas
Documentário registra cotidiano de três adolescentes grávidas durante um ano; cineasta espera levar tema à reflexão da sociedade
Evelin tem 13 anos e está grávida de um rapaz de 22, que acaba de deixar o tráfico de drogas. Já Edilene, 14, espera um filho de Alex, que também engravidou sua vizinha, Joice. E Luana, aos 15, revela ter planejado a gravidez, pois desejava ter um filho.
O foco, claro, é a gravidez na adolescência, tema abordado pela cineasta brasileira Sandra Werneck no documentário Meninas, ainda inédito para o grande público – sua estréia é prevista para maio; por enquanto, foi exibido apenas em mostras e festivais no Brasil e Exterior.
Embora tenha diminuído em 2004, segundo dados do IBGE, o índice de gravidez precoce no País ainda é assombroso: mais de 20% dos partos realizados são de mulheres na faixa dos 10 aos 20 anos.
Para a filmagem, a equipe de Meninas entrevistou 110 grávidas entre 10 e 14 anos nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Pernambuco, Ceará, São Paulo e Paraíba. Ao final, foram selecionadas três moradoras no Rio, que tiveram seu cotidiano acompanhado por um ano.
“O universo que conheci ao acompanhar a trajetória dessas meninas foi profundamente revelador: elas quase não vivem suas infâncias, desde cedo assumindo o compromisso de cuidar dos irmãos mais novos e de suas casas. Acabam por confundir maternidade com maturidade na expectativa de que o novo status de mãe signifique um reconhecimento na comunidade e na família”, avalia a diretora.
O resultado, muitas vezes, é a ausência da figura paterna. “O novo pai, por sua vez, segue em frente, engravida outra menina, que vai ficar sozinha também. A primeira acaba se juntando a outro rapaz, que a engravida de novo e também a deixa sozinha… O resultado são todas essas casas cheias de mulheres e seus filhos”, aponta Sandra.
Em sua avaliação, não basta distribuir camisinhas para acabar com o problema. “O Brasil precisa pensar na questão do planejamento familiar. Para além de qualquer plano assistencialista é preciso cuidar seriamente da educação, a começar pelas futuras mães; mostrar-lhes o que significa ser mãe. Para muitas ter filhos é simples questão de status ou a realização de um sonho vago que não sabem exatamente o que é”, afirma.
A cineasta, que volta ao documentário após filmes de sucesso como Cazuza e Amores Possíveis, espera que Meninas possa contribuir para a discussão de tão delicado tema.
“Espero que, além de um documentário interessante do ponto de vista cinematográfico, seja um instrumento de reflexão para a sociedade. Quero que, além de chegar às salas de cinemas, possa servir ao debate dessas questões”, destaca.