Greve geral na Índia reúne mais 250 milhões de trabalhadores do campo e da cidade
Número de manifestantes é maior do que toda a população brasileira. Luta é por manutenção de garantias aos agricultores, contra reformas e privatizações
Apesar de pouco noticiada pela imprensa tradicional, a mobilização dos trabalhadores na Índia teve grande impacto naquele país e serve de exemplo para o Brasil. No último dia 26, cerca de 250 milhões de trabalhadores do campo e da cidade paralisaram suas atividades em protesto contra medidas neoliberais do governo do primeiro-ministro Narendra Modi (BJP), de extrema direita.
Até a semana passada protestos aconteciam em vários estados e milhares de agricultores acampavam na periferia da capital indiana, decididos a manter o bloqueio até que o governo recuasse em seus planos de liberalizar os mercados agrícolas.
A luta contra uma série de mudanças legais que sacrificam pequenos produtores e camponeses e ameaçam a soberania alimentar em nome de benefícios a grandes empresas do agronegócio ocorre desde junho.
A carta apresentada pelos organizadores da greve inclui 12 demandas, entre as quais o retorno da Lei de Produtos Essenciais (ECA, na sigla em inglês), que estabelecia limites à quantidade de grãos que comerciantes ou empresas poderiam estocar, além de regular preços.
O secretário de Relações Internacionais da CNM/CUT (Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT) Maicon Michel Vasconcelos da Silva, explicou que essas leis davam garantias aos trabalhadores rurais que somam dois terços da força de trabalho da Índia.
“Ao longo dos últimos anos, a classe trabalhadora organizada pressionou os governos indianos para que fossem tomadas algumas iniciativas para tentar diminuir a pobreza e conseguir renda para o povo, esses dois terços da população rural no país. As diferentes leis garantiram uma espécie de reserva de mercado para esses produtores. As medidas aprovadas recentemente retiram essa proteção e jogam mais de 85% dos camponeses, que tem menos de 2 hectares, direto nas mãos do agronegócio e estabelece um tipo de livre negociação de preços entre os grandes e os pequenos”.
O dirigente destacou que os manifestantes também protestam contra a privatização do Estado, por proteção social, regulamentação de jornada de trabalho e por protocolos de segurança durante a pandemia do coronavírus.
“Juntamente com essa questão das leis também está em debate a reformulação do Estado, a questão da jornada de trabalho, por exemplo, a proteção aos trabalhadores. É uma pauta do neoliberalismo no sul do mundo, a mesma coisa que Temer e o Bolsonaro colocaram no Brasil, só que lá o pessoal tem se mostrado mais unido, mobilizado e combativo para enfrentar os retrocessos”.
Repressão policial
Durante os protestos, realizado no Dia da Constituição da Índia, policiais cercaram o parlamento a mando de Medi para impedir que os manifestantes se aproximassem. “Os policiais usaram jatos d’água contra a população com uma mistura de produto químico para provocar vômito, além de bombas de gás lacrimogêneo. Foi um cenário de guerra, mas os manifestantes responderam à altura fazendo a resistência da forma como deve ser feita em casos como este”.