Greve na Fris-Moldu-Car: 64 dias de resistência

Os 260 trabalhadores na Fris-Moldu-Car, em São Bernardo, completam hoje 64 dias de greve, o mais longo movimento já registrado na categoria. O pessoal continua com a confiança e a esperança na luta para chegar à vitória.

A mais longa greve da categoria

Os 260 trabalhadores
na Fris-Moldu-Car, em São
Bernardo, completam hoje
64 dias de greve, o mais longo
movimento já registrado
na categoria. O pessoal parou
dia 21 de fevereiro deste ano
pelo pagamento de salários
atrasados e em protesto contra
inúmeros acordos não
cumpridos pelo proprietário
da empresa, José Roberto Riviello.

Logo após o início do
movimento, os trabalhadores
montaram um acampamento
diante da portaria da fábrica,
onde se revezam de 20
a 60 pessoas, dia e noite, para
impedir que o patrão tire as
máquinas.

No momento, elas são a
única garantia dos companheiros
para um dia receber
o que é de direito. Outra decisão
foi recomendar aos
companheiros que moram
em outras cidades ficarem
em casa. O que gastariam
com passagens de ônibus seria
muito caro.

O dia-a-dia dos grevistas
é muito difícil conta Edison
Ferreira da Costa, coordenador
da Comissão de Fábrica.
Cerca de R$ 60,00 diários
são gastos com a alimentação
de todos que estão no acampamento.

Eles passam a maior parte
do tempo jogando dominó ou vendo tevê na barraca. Até
os telefones da fábrica foram
cortados. Os trabalhadores só
conseguem manter o movimento
graças a solidariedade
da categoria, que em diversas
campanhas arrecadou o
dinheiro e os mantimentos
que sustentam a luta do pessoal.

“Várias coisas nos dão
ânimo”, revela Edison. “A solidariedade
que nunca faltou;
o apoio constante do Sindicato,
em especial do Departamento
Jurídico; a confiança
que a Justiça vai decidir em
nosso favor no final dos processos
porque temos razão; e,
principalmente, a fé e a confiança
que nossa briga é justa,
pois só assim alcançaremos
a vitória”, afirma Edison.

Os momentos mais emocionantes
do movimento, na
opinião do dirigente, foram
as chegadas das doações e o
dia 12 de abril, quando a Justiça
julgou o dissídio a favor
dos trabalhadores. A hora
mais triste é quando ele faz a
ronda noturna dentro da fábrica.
“Dói o coração ver paradas
todas aquelas máquinas
que poderiam estar rodando
e gerando empregos. Inclusive
para nós”, diz Edison.

Para o patrão, helicóptero e iate

Quando os trabalhadores cruzaram os
braços, os salários já estavam atrasados há três
meses. Mesmo assim, os companheiros continuaram
fazendo a fábrica funcionar por temer
seu fechamento e a perda dos empregos.
Só que a situação piorou até que começou
a faltar matéria prima.

Aí não houve alternativa senão entrar
em greve. “Nossa situação era desesperadora,
não tínhamos outra saída”, recorda Edison,
da Comissão. Hoje, dois meses depois do início
do movimento, ele conta que os companheiros
estão exaustos e estressados, mas continuam
firmes e não vão desistir.

O que mais revolta a companheirada é a
empresa chegar nessa situação por descaso de
Riviello, que acumulou uma grande fortuna
pessoal enquanto quebrava a firma. Há dois
anos e meio, a Fris faturava em torno de R$ 4
milhões por mês.

O empresário só anda de carrões blindados,
tem iate e vários jet esquis em um caríssimo
clube em São Vicente, voa de helicóptero
e pousa o aparelho na empresa, fazendo
pouco caso dos trabalhadores. Comenta-
se até que possui uma Ferrari. O pessoal
também não se conforma com o fato de
Riviello ter declarado à Justiça que recebe R$
1.500,00 mensais.

Com esse salário, ele precisaria trabalhar
mais de 30 anos para comprar apenas a
Ferrari. Isto se não gastasse o dinheiro em mais
nada.