Greve na Nakata pode começar hoje se não houver diálogo

Trabalhadores estão mobilizados na luta pela permanência da fábrica em Diadema

Foto: Adonis Guerra

Após aprovarem a continuidade do protesto em assembleia na manhã de ontem, os trabalhadores na Nakata produziram em “operação tartaruga” com paradas na produção. Com o aviso de greve protocolado na tarde de quarta-feira, a greve pode ser decretada a partir de hoje se não houver, por parte da empresa, abertura de diálogo para discutir a possibilidade de permanência da fábrica em Diadema. 

“A nossa responsabilidade e preocupação com cada um de vocês é muito grande. Quero parabenizar todos que estão seguindo as orientações do Sindicato, vamos continuar na operação tartaruga e não vamos dar ouvidos aos chefes”, orientou o coordenador da Regional Diadema, Antônio Claudiano da Silva, o Da Lua.

O diretor executivo do Sindicato e presidente da IndustriALL Brasil, Aroaldo Oliveira da Silva, ressaltou que a questão deve ser resolvida de forma conjunta e apresentou números que provam que o lucro da Nakata estava em alta, o que não justifica a saída da região.

Adonis Guerra

“No último período só tínhamos notícias boas. O Grupo Randon, dono da Nakata, declarou que a produtividade melhorou nos últimos anos chegando a 88%.  Só em 2019, o faturamento foi de R$ 515 milhões, o lucro líquido de R$ 67 milhões. Isso num momento que a indústria brasileira estava indo mal, é preciso lembrar que mesmo antes da pandemia o PIB do Brasil já era negativo. Então o que justifica fechar uma planta dessa? Não tem lógica”.

O dirigente também denunciou que os governantes não reagem diante dessa situação. “Temos que cobrar o governo do Estado, é mais uma empresa que sai de São Paulo e não vemos nenhuma reação. Vão deixar ficar desmontando desse jeito?”.

O vice-presidente dos Metalúrgicos do ABC, Claudionor Vieira, destacou a importância da solidariedade para fortalecer a luta e cobrar providências.

Foto: Adonis Guerra

“Uma das coisas mais importantes no conjunto da classe trabalhadora é a solidariedade. Se alguém aqui já se sentiu diferente e não foi solidário com os companheiros e companheiras, seja por qualquer razão, esqueçam isso e sejam solidários. No sistema capitalista de produção não existe sensibilidade humana. A única forma de resistir é através da solidariedade entre os trabalhadores”.

Claudionor também destacou a qualidade da mão de obra na região e criticou a postura da direção da fábrica.

“Sabemos que poucas regiões deste país tem uma mão de obra tão qualificada como a região do ABC. Esta empresa ainda tem tempo de fazer uma reflexão e ficar aqui com o que ela têm de melhor que é o conjunto de trabalhadores”, defendeu.

“Vamos fazer tudo o que for preciso para garantir a permanência da empresa e os empregos. Sabemos que isso não é fácil porque eles não se contentam em ganhar muito, eles querem ganhar tudo, querem levar a empresa para um lugar onde os trabalhadores tenham salários menores e assim eles aumentam ainda mais seu lucro”, reforçou.

Indústria

“Nos últimos cinco anos, 1.800 empresas de diversos ramos foram fechadas na região”. Com essa informação o presidente da IndustriALL Brasil, levantou a discussão sobre a importância de debater o tema de forma local e nacional.

“Onde vamos parar? Para onde estamos indo? É preciso dialogar com o poder público regional, estadual e nacional. Além do emprego, tem a contribuição que as empresas fazem para financiar o estado, política pública, educação, saúde e segurança. Se não tem trabalhador industrial, quem atua no setor de serviços é afetado, porque o desempregado não vai consumir. Cada R$ 1 investido na indústria gera R$ 2,40 na economia”, disse Aroaldo.

“Mudar de um estado para outro não é política industrial, é carnificina, você mata uma região em detrimento da outra. A gente tem que fazer o Brasil crescer de forma geral e tem espaço para isso. O Brasil não vai sobreviver só de agricultura, ‘o agro é pop’ mas não sustenta os brasileiros, não gera empregos e não paga impostos. Temos que pegar essa luta da Nakata e de tantas empresas aqui e transformar na luta de todos os trabalhadores do Brasil”, concluiu.