Grupo Forja é registrado em livro
´Peões em Cena´ conta a história de trabalhadores que interpretavam o Brasil da ditadura
Em 1979, um ano após a greve dos metalúrgicos da Scania que deu início ao período de paralisações que marcou a Região e o País, o sociólogo Tin Urbinatti redigiu o texto “Contrato Coletivo”, documento que sedimentava as propostas de campanha salarial da época. Para divulgar o eixo da luta, os ativistas sindicais pediram para que ele criasse um grupo teatral.
De acordo com os registros do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e do próprio Urbinatti, professor de teatro, fundou-se naquele ano o primeiro grupo de atuação de operários do Brasil, o Grupo Forja. Mais de 30 anos depois, o diretor, ator e pedagogo lança o livro “Peões em Cena”, que relata as experiências da iniciativa, no auditório da Livraria Marxista (rua Tabatinguera, 318, próximo ao metrô Sé, São Paulo) nesta sexta-feira (01/07), às 19h30.
O volume contém os textos elaborados por trabalhadores das peças “Pensão Liberdade” (1980), segundo espetáculo do grupo; “Pesadelo” (1982), montagem de rua; e roteiros de outras peças como “Brasil S.A.”, “Boi Constituinte” e “O Robô que virou Peão”. “A base principal do livro é a história do Forja na conjuntura política do País ao longo das três décadas pelas quais passamos”, informou o escritor.
De acordo com Urbinatti, para cada desdobramento político, social e econômico que impactava na vida dos brasileiros, havia uma peça correspondente. “Narro o processo de transportar elementos complicados do dia-a-dia para a realidade da população”, explicou. Levar teatro para desmistificar problemas e torná-los compreensíveis era uma forma de quebrar a alienação que favorecia o regime militar.
Repressão
“O grupo era a manifestação artística, porém com preocupação política do sindicato”, definiu o artista. O teatro era utilizado como instrumento de trabalho para conscientizar não só operários, mas todo o povo. “Defendo o ativismo artístico, não posso ficar calado diante da realidade do meu País”, comentou.
Enquanto durou, o Grupo Forja visitou o Interior do Estado de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. “No ABCD, houve inúmeras e memoráveis apresentações na Igreja Matriz e no Estádio da Vila Euclides que chegaram a juntar mais de 30 mil pessoas”, relembrou.
Para Urbinatti, o que sustentava o teatro de/para operários era o anseio de mudar a história do Brasil e brigar por justiça social. O fato de ser direcionado ao povo também representava perigo, pois cada ato poderia implicar em prisões e agressões que efetivamente aconteceram pelas mãos do Dops (Departamento de Ordem Política e Social).
Mesmo com o formato lúdico de levar discurso político para a plateia, a ditadura tentava enquadrar os componentes do grupo por considerá-los subversivos. “A situação da época requeria engajamento, o ABCD estava em foco e tudo que acontecia aqui refletia no restante do Brasil”. O autor foi preso durante quatro dias pelo Dops e sofreu agressões físicas ao lado de muitos companheiros. “Os peões tinham fome de se expressar, só ajudei a levar a forma”, resumiu.
Do ABCD Maior