Guerrilha Cultural: Juventude e Políticas Públicas


Jovens ativistas da Região se reúnem em Seminário do Fórum Social Regional. Foto: Luciano Vicioni

Um elenco formado por ativistas de diversos ramos culturais da Região se reuniu neste sábado (24/09) para o Seminário “Juventude e Cultura Viva”, do Fórum Social Regional, em São Bernardo. A mesa de debates, intitulada “Guerrilha Cultural: A cultura como arma para qualificar o desenvolvimento regional”, foi mediada pela agente cultural Neusa Borges e teve o objetivo de discutir políticas públicas culturais para diferentes segmentos culturais e sociais do ABCD.

Os participantes provinham de áreas como Artes Cênicas, Produção Cultural, Hip Hop, Literatura, cultura tradicional, entre outros. São eles: Alisson Rodrigo da Silva, integrante da Companhia de Moçambique Família Feliciano e vice-presidente do Afoxé Omo Aiye Sele; Cristiane Santos, arte-educadora e integrante da Cia As Marias (núcleo cênico formado por artistas de diferentes linguagens com interesses em pesquisa e criação artísticas para espaços abertos); Neri Silvestre, produtor cultural e coordenador do ponto de cultura Mistura e Gingada; Arnaldo Tifu – Poeta, produtor cultural, cantador de rap, educador e facilitador de experiências do ponto de cultura Mistura e Gingada. É fundador de um coletivo de arte e cultura denominado R.I.S.O (Rap Inteligente Simples e Original); Beto Teoria, rapper e produtor cultural, fundador e dirigente nacional da Nação Hip Hop Brasil. É Coordenador de Ação Comunitária e Juventude da prefeitura de Ribeirão Pires;  Joanan Santos Prates, que estudou Artes Plásticas na Universidade Federal da Bahia e mora em Diadema desde 2003, onde trabalhou ministrando oficinas de criação em desenho e pintura. É colaborador da Rede de Pontos de Cultura de Diadema e colabora com as atividades de formação para a Rede, através do Pontão Setecidades; Claudio Cox – Músico e produtor cultural. Atuou no punk rock do início dos anos 1990, foi vocalista da banda Projeto Nave. Atualmente é um dos vocalistas da banda Lamartino e da banda de rock Giallos. É um dos membros do site de cultura Pastilhas Coloridas; Robson Timóteo, produtor Cultural e membro do Coletivo Cidadão do Mundo, de São Caetano; e Max da MBB, coordenador do Coletivo de Juventude dos Metalúrgicos.

Na plateia estavam interessados em cultura e desenvolvimento, membros de organizações culturais e sociais, artistas como o cordelista Moreira de Acopiara, além de jovens do Núcleo de Apoio Social e Pedagógico do Parque Ideal, da região do Alvarenga. As jovens vieram acompanhadas da pedagoga Marcia Moreira e participaram do debate.

Cada membro da mesa explanou sobre sua área de atuação: Historia, Experiência, desafios, soluções e políticas públicas. Muitos dos participantes não se conheciam e a situação foi oportuna para que percebessem que suas demandas eram essencialmente semelhantes e que o diálogo entre os segmentos em busca de melhorias de condições de produção, é fundamental. Nesse sentido, o diretor do JORNAL ABCD MAIOR, Celso Horta, incitou a reflexão aos ativistas: Por que os movimentos não se unem, o que faltava pra isso acontecer?

A dificuldade de comunicação dos sindicatos com a cultura também foi tema de debate proposto para a mesa, já que, de acordo com membros da comissão de fábrica da Mercedes Benz, há uma resistência por parte dos trabalhadores em lidar com a estratificação de movimentos e à aproximação com linguagens culturais.

Para Ditinho da Congada, uma boa saída para as questões apresentadas pela e para a mesa é a política partidária. “Vocês têm que pensar em ser candidatos. De que adianta agitar tanto para depois cair na mão de gestores? Ficar a mercê de candidatos eleitos, que só agem em causa própria?”, indagou.

Para Alisson Rodrigo da Silva, a união de grupos culturais da Região é importante, pois os de fora acabam tomando o lugar dos daqui e nem conhecem tão bem a Região e sua historia. Cristiane dos Santos concordou e atribuiu a falta de comunicação entre os grupos à “preguiça e preconceito”. “Falta um exercício de alteridade, de entender a diferença, senão acabamos não dialogando e ninguém dá conta sozinho. As ações acabam pulverizando”, disse.

Questão de direito
Robson Timoteo afirmou que cultura é um direito fundamental como qualquer outro. “Quando os trabalhadores se derem conta que cultura é um direito fundamental, vai mudar sua perspectiva”, afirmou, destacando os esforços que têm sido feitos por ele e pelo Cidadão do Mundo, para que o trabalho autoral seja valorizado na Região. “Queremos que as pessoas valorizem e prestigiem nossos artistas. O trabalho deles não é filantropia”.

Para Cláudio Cox, antes de ofertar cultura, é preciso que se formem públicos, que se tenha uma base. “Se um filme do Almodòvar entrar em cartaz em alguma sala de cinema comercial do ABCD, poucas pessoas vão assistir porque nem sabem do que se trata”, disse, se referindo ao diretor espanhol. “Como um trabalhador vai saber se gosta de jazz se não tiver oportunidade de conhecer e apreciar?”, completou.

Ação
Arnaldo Tifú questionou a finalidade de um encontro como seminário e deixou clara sua disposição de “colocar a mão na massa”. “Precisamos parar de apenas debater, ficar girando em volta do próprio rabo e agir de fato, ganhar tempo”. Já para Max da MBB, encontros para o diálogo já são ações culturais. “Quando nos reunimos e nos organizamos estamos agindo em direção a soluções e ações culturais igualmente significantes”, disse, para depois elencar alguns projetos do Coletivo da Juventude dos Metalúrgicos, mostrando que relação da cultura com os trabalhadores está se estreitando aos poucos. São eles: A criação de grupos de teatro dentro das fábricas; projeto Arte nas fábricas; exposições fotográficas e concursos musicais.

De acordo com Neusa Borges, o grande desafio da cultura é enfrentar o imediatismo, e lembrou que cultura não é apenas arte, mas também memória e patrimônio. Para a mediadora do Seminário, o saldo do encontro foi positivo. “Mostrou que a Região precisa se conhecer mais e que tem potencial de fazer profundas mudanças através da arte e da cultura”, afirmou.

Do ABCD Maior