Haiti: Quem derrubou Aristide?

Na faixa de manifestantes em Caracas, na Venezuela, se lia Adeus Aristide, Chavez, você é o próximo. É difícil não vincular a crise do Haiti com os dedos norte-americanos, da mesma forma como na Venezuela.

O Haiti foi o primeiro país latino-americano a conquistar sua independência. Sacudido por golpes e ditaduras, metade da sua população é analfabeta, 80% dos haitianos vivem abaixo da linha da pobreza e 95% são negros.

O padre progressista Jean-Bertrand Aristide foi eleito democraticamente em 1991 depois da sangrenta ditadura da família Duvalier. Aristide foi afastado por novo golpe militar cinco meses depois de eleito. Quatro anos mais tarde voltou a governar o País e ficou até 1995. Teve a ajuda de Bill Clinton, presidente norte americano na época, que se viu pressionado pela imigração de haitianos aos EUA. Aristide também teve apoio do FMI para implantar reformas neoliberais e privatizações.

Em 2000, Aristide voltou à presidência prometendo reforma agrária, saúde, fim do analfabetismo. Foi um dos primeiros governantes que se tem notícia a cobrar uma dívida social. Exigia 20 bilhões de dólares da França pela escravidão que submeteu seu povo entre 1697 a 1804.

Em resposta, começou um embargo comercial da União Européia e dos Estados Unidos. Seu governo ficou então sob fogo cerrado da mídia e de milícias armadas.

Mesmo assim, no final do ano passado, Aristide dobrou o valor do salário mínimo, o que detonou um levante puxado pelo empresariado. Em dezembro, a oposição rejeitou um acordo para eleições e convocou uma fracassada greve geral, apoiada apenas por empresários que fecharam lojas e fábricas, como na Venezuela.

Restou à oposição partir pa-ra um banho de sangue e que culminou com a derrota do governo no último final de semana.

A maioria dos líderes da oposição são do extinto exército haitiano. Muitos condenados a prisão perpétua e outros conhecidos pelo terror que sempre espalharam no interior do país.