Haverá mais mobilização pelo Brasil Maior


Foto: Raquel Camargo / SMABC

Um dos articuladores das mobilizações e negociações pela participação dos trabalhadores na definição da política industrial brasileira, o Plano Brasil Maior, Sérgio Nobre, presidente do Sindicato afirma que a disputa é com setores poderosos e que a categoria deverá se mobilizar ainda mais se quiser mais empregos e melhores salários por meio da modernização industrial e da produção nacional. 

Que primeira avaliação você faz do aumento do IPI para carros importados?
Foi uma vitória da categoria. A atuação mais contundente para a medida partiu dos metalúrgicos. Começou com o seminário conjunto com a Fiesp, no qual denunciamos o risco da desindustrialização e do desemprego, passou por um ato da CUT no dia 6 de julho no Centro da Capital, pela grande manifestação na Via Anchieta, junto com os metalúrgicos paulistas no dia 8 de julho, e culminou com a pressão sobre o governo para participamos da elaboração do plano Brasil Maior. 

E quanto às críticas de que a medida é protecionista?
Quem esperneou tem de entender que o setor auto tem uma grande complexidade e se estende por muitos ramos da economia. Movimenta 11% do PIB, cerca de R$ 400 bilhões ao ano, e emprega 300 mil trabalhadores na produção. Se considerarmos a cadeia toda, desde o fornecedor de aço aos serviços de manutenção, são 1,3 milhão de empregos. Acho que quem ficou irritado devia levar esses dados em consideração. 

Mas o aumento do IPI irritou parte da sociedade…
Existem setores da classe média que querem comprar carros mais modernos e de baixo preço e que se sentiram incomodados. Um representante das importadoras estava histérico enquanto o governo fazia o anúncio na quinta-feira passada. É bom lembrar que o aumento do IPI é uma medida de transição até dezembro do ano que vem e as negociações seguem na Câmara Setorial. Até lá temos de fazer as montadoras daqui oferecerem modelos com equipamentos, acessórios e itens de segurança que o comprador quer e só acha nos importados. 

As montadoras estão dispostas a investir em tecnologia e desenvolvimento?
Não vejo muita disposição, não. Estamos numa disputa e temos de nos mobilizar, fazer com que isto aconteça. 

O IPI maior não impedirá investimentos de novas marcas em fábricas no Brasil?
Se os importadores quiserem produzir aqui, terão de substituir os importados pelos nacionais. O País não pode sustentar uma venda tão grande de carros importados, que não geram um único posto de trabalho e são produzidos sobre forte repressão aos trabalhadores, baixos salários e jornadas longas, como na China. O Brasil precisa ter uma indústria forte.

E com qual pauta a negociação da Câmara continuará?
Voltaremos a Brasília nesta semana para definir critérios do que é conteúdo nacional. Para nós, o futuro está no desenvolvimento de motores e na eletrônica embarcada. Não nos interesse debater lataria, pintura, tapeçaria. Nos interessa o desenvolvimento de modelos e de tecnologia para itens que agreguem valor aos veículos. 

Há também uma pauta trabalhista na Câmara Setorial…
Junto com desenvolvimento tecnológico queremos relações democráticas de trabalho, com organização nos locais de trabalho, salários e direitos sociais iguais em todas as plantas do Brasil. 

A categoria deu um passo num setor. E para os demais?
A mudança no IPI serve a um terço de nossa categoria. Temos de pressionar o governo por medidas semelhantes em setores igualmente importantes como máquinas e eletroeletrônicos que continuam descobertos. O IPI para importados foi um passo importante, o primeiro eu diria, mas necessita mais luta. 

E essa conversa é feita com o governo?
Existe conversa, mas tem de ter mobilização. Faremos mais manifestações e vamos anunciar em breve. Temos de combinar a negociação com a mobilização para fazer esse enfrentamento. Como disse antes estamos numa disputa com interesses poderosos dos importadores. É também necessário ganhar a imprensa para o nosso lado, convencê-la da importância de defender o emprego. Os importadores, especialmente de carros, são grandes anunciantes e conseguem fazer prevalecer sua opinião diante da luta dos trabalhadores. Basta ver na novela o tanto de carro importado mostrado nas cenas.

Da Redação