Herói nacional: Lula destaca a luta de Marighella pela democracia e lembra que o Brasil precisa reverenciar seus heróis

A exibição do longa “Marighella” no Sindicato, na noite da última sexta-feira, 3, foi um ato político. O evento contou com a presença de lideranças políticas, sociais, atores do elenco, do filho e da neta do guerrilheiro, Carlinhos e Maria Marighella, e do ex-presidente Lula que exaltou a democracia e a importância de o Brasil aclamar seus heróis. 

Foto: Adonis Guerra

“Marighella é uma das poucas pessoas assassinadas pelo regime militar que conseguimos transformar em um símbolo, em um herói. Muitos outros que morreram ficaram desconhecidos. Temos a obrigação de contar, porque a história deste país sempre foi contada pelos vencedores, e os vencedores eram cruéis”. 

Foto: Adonis Guerra

“Na história da humanidade, toda vez que aparece alguém para defender os humildes, os mais pobres, as pessoas mais necessitadas, essa pessoa é punida, presa, caçada, assassinada. Precisamos cultuar, divulgar o significado da luta das pessoas que, como Marighella, morreram para garantir que o restante do povo brasileiro vivesse democraticamente”, completou. 

Foto: Adonis Guera

Igualdade de condições 

Lula destacou ainda que viver em uma democracia significa que o Estado tem que tratar todos em igualdade de condições. “Na história da classe trabalhadora, nunca vimos o Estado mandar a polícia bater no patrão que se nega a dar um aumento de salário, mas estamos cansados de ver a polícia bater em quem pede o aumento de salário. Ou seja, quem pede está cometendo um crime. As estruturas deste país foram criadas para sustentar o privilégio das elites que estão aqui desde que Cabral colocou os pés em 1500”. 

Foto: Adonis Guerra

O presidente do Sindicato, Wagner Santana, o Wagnão, também lembrou que o guerrilheiro representa a luta de muitos que perderam a vida lutando pela democracia. “Marighella representa também a luta de muitos anônimos que não sabemos quem são, de ossadas não identificadas de muitos companheiros e companheiras que ainda estão lá na Vala de Perus”. 

“Democratizar o país não significa apenas votar, significa ter o acesso à saúde, à educação. E esse evento é uma saudação nossa à democracia, ao direito, e às pessoas que lutaram para que pudéssemos estar aqui hoje”, reforçou. 

Foto: Adonis Guerra

Voz da indignação coletiva 

A neta do guerrilheiro e atriz do filme, Maria Marighella, foi aplaudida ao ressaltar que o filme representa a voz da indignação coletiva do povo. “Marighella lutou por democracia, por direitos, colocou o dedo na ferida da violência, da exploração da terra, da ausência de direito do povo negro, falou do direito das mulheres, das juventudes. Marighella é essa voz que pulsa no mundo num processo de violência, brutalidades e arbitrariedades”.

“Mas Marighella não é só denúncia, é também anúncio. E o que estamos fazendo em toda parte com esse filme é anunciar um novo tempo em que seremos livres, em que seremos irmãos, o tempo da liberdade”. 

Foto: Adonis guerra

Diálogo com a base evangélica

Também ator do filme, o pastor Henrique Vieira, que interpreta Frei amigo de Marighella, lembrou que a história é, sobretudo, sobre os que seguem resistindo ao avanço da extrema-direita e do autoritarismo no Brasil e destacou a importância de estabelecer um amplo diálogo com a base evangélica. 

Foto: Adonis Guerra

“Precisamos entender que essa base é majoritariamente formada por pobres, trabalhadores e trabalhadoras, mulheres e negros que lutam todos os dias para sobreviver. Nós precisamos derrotar o fundamentalismo religioso neste país dialogando com a base popular”.

O pastor também foi aplaudido pelo púbico que lotou o Sindicato ao afirmar: “Bolsonaro mataria Jesus hoje! O bolsonarismo se alimenta do ódio, Jesus viveu por amor. É fundamental dialogar com o povo para mostrar que o bolsonarismo não tem nada a ver com democracia, com República, com pão na mesa dos trabalhadores e que o bolsonarismo não tem nada a ver com o evangelho de Jesus”.

Foto: Adonis guerra

O filme

O filme dirigido por Wagner Moura e estrelado por Seu Jorge, que conta os últimos anos de vida do guerrilheiro considerado o inimigo número um da ditadura militar, estreou no Brasil no início do mês passado, após ter sofrido censura por parte do governo Bolsonaro.

Foto: Adonis guerra