História|João de Barro, tudo ele

Pense numa música de Carnaval, de festa junina ou de uma antiga e eterna estorinha infantil. Com certeza você pensou numa obra de Braguinha.

Por Guilherme Bryan

João de Barro das eternas construções

Pense numa marchinha de Carnaval, numa música tradicional de festa junina, numa canção de estória infantil tão antiga quanto eterna… Com certeza você pensou numa obra de Braguinha

Um dos mais importantes nomes da história da música
brasileira, Carlos Alberto Ferreira Braga completaria 100 anos no
próximo dia 29 de março. Nove entre cada dez marchinhas cantadas nos
bailes de Carnaval por todo o país certamente foram compostas por ele,
o popular Braguinha – ou João de Barro. Se parece exagero, comece a
listar: Linda Lourinha, Vai com Jeito, Pirata da Perna de Pau,
Pastorinhas (esta com Noel Rosa), Balancê, Cadê Mimi?, Chiquita Bacana,
Touradas de Madri e Yes, Nós Temos Bananas (com Alberto Ribeiro).

“Ele
foi um grande compositor/letrista. E a principal, e melhor,
característica do Braguinha carnavalesco é o modo como ele trata a
mulher, acompanhando sua evolução, inclusive no vestir-se (ou
despir-se), a cada nova onda”, conta o crítico musical João Máximo.

Mas
não foi só como autor de marchinhas que João de Barro se imortalizou.
Canções folclóricas ou da safra que viria a se chamar MPB também estão
no seu rico repertório. Quem não se lembra, por exemplo, dos versos de
Copacabana, com Alberto Ribeiro, que se tornou praticamente um dos
hinos do Rio de Janeiro – “Copacabana princesinha do mar/ pelas manhãs
tu és a vida a cantar”. Ou da letra de Carinhoso, música de
Pixinguinha? São também suas as letras de Cantores do Rádio, com
Alberto Ribeiro e Lamartine Babo; Capelinha de Melão, com Alberto
Ribeiro, e Pedido a São João, indispensáveis nas festas juninas; Dama
das Camélias, com Alcir Pires Vermelho; A Saudade Mata a Gente, com
Antônio Almeida; e Sorri, versão para Smile, de Charles Chaplin, John
Turner e Jeoffrey Parsons.

Aluno
de Arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro,
virou João de Barro (o pássaro “construtor”) para fazer média com seu
pai, que não o desejava em ambientes malvistos como os da música
popular. Seus primeiros sucessos vêm do Carnaval de 1933, com Moreninha
da Praia e Trem Blindado, quando integrava, ao lado de Noel Rosa,
Alvinho e Almirante, o Bando dos Tangarás.

Quando
trabalhou como diretor artístico da gravadora Continental, o ex-futuro
arquiteto projetou também nomes como Radamés Gnattali, Antonio Carlos
Jobim, Lúcio Alves, Dick Farney, Doris Monteiro, Tito Madi, Nora Ney,
Jorge Goulart e Jamelão. Ele e seu parceiro Alberto Ribeiro foram ainda
contratados pelo norte-americano Wallace Downey para assessorá-lo na
direção e no roteiro de filmes como Alô, Alô, Carnaval (1936), Banana
da Terra (1938) e Laranja da Terra (1940). Na década de 1940, João de
Barro seria o responsável por dublagens e versões brasileiras das
trilhas sonoras das animações de Walt Disney – Branca de Neve e os Sete
Anões, Pinóquio, Dumbo e Bambi. Agradecido, o próprio Disney deu-lhe um
relógio de ouro.

Pela estrada afora

Nessa época, Braguinha encantou-se com o universo infantil, iniciando
uma safra de produções que ficaria arquivada na memória de muitas
gerações. O selo Disquinho lançou uma série das mais tradicionais
estórias e fábulas infantis em versão nacional. As canções das trilhas
sonoras entraram para a história: Tem Gato na Tuba (Todo domingo/ Havia
banda/ No coreto do jardim… / Pum, pum pum – miau/ Pum, pururum, pum,
pum – miau), Pela Estrada Afora (…Eu vou bem sozinha / Levar esses
doces para a vovozinha), Quem Tem Medo do Lobo Mau.

Com
produção sofisticada, no final da década de 1970 os disquinhos de vinil
colorido já tinham alcançado a marca de 5 milhões de cópias vendidas.