Historiador americano lança livro sobre trajetória de Lula, amanhã no Sindicato

Pesquisa busca apresentar respostas para explicar como um operário se tornou o presidente do Brasil reconhecido no mundo todo

Foto: Adonis Guerra/SMABC

O Sindicato recebe amanhã, a partir das 10h, o lançamento do livro “Lula e a política da astúcia: de metalúrgico a presidente do Brasil”, do historiador John D. French, editado pela Expressão Popular, em coedição com a Fundação Perseu Abramo. A atividade contará com a presença do autor norte-americano.

Na obra, o historiador procura explicar como um operário como Luiz Inácio da Silva se tornou o líder Lula, das greves do ABC e o presidente do Brasil reconhecido no mundo todo.

Confira alguns detalhes que John French que é professor de História na Duke University e North Carolina University, nos Estados Unidos, autor dos livros “O ABC dos operários: conflitos e alianças de classe em São Paulo (1900-1950)” e “Afogados em Leis: a CLT e a cultura política dos trabalhadores brasileiros”, revelou à Tribuna.

Tribuna Metalúrgica – Como se deu o processo de pesquisa?

John French – Passei 40 anos estudando profundamente a vida e as lutas do povo trabalhador de São Paulo, Brasil, durante o século XX, focando sobretudo nos metalúrgicos do ABC, que atraíram minha atenção em 1979, quando eu entrei para o programa de doutorado em Yale. Quando cheguei no Brasil, com 27 anos, em 1980, uma greve ainda mais titânica de metalúrgicos, liderada por um Lula então com 35 anos de idade, tinha acabado de ser derrotada. Meus 18 meses de pesquisa para o meu doutorado, em 1981-1982, foram dedicados à relação entre o sistema de relações industriais e trabalhistas e as transformações eleitorais e políticas que surgiram no ABC entre 1900 e 1964.

TM – Essa biografia não tem o foco no indivíduo Lula, mas sim no político, é isso?

John French – Ao adotar o caminho da biografia, este livro rejeita uma narrativa excessivamente individualista na qual a história pessoal de Lula é apartada da história de relações com outras pessoas. Neste livro, Lula não será tratado com glorificação, mas está ancorado, sobretudo, nas relações com outros: com sua família – primeiro e acima de tudo, especialmente com seu irmão José Ferreira de Melo (mais conhecido por seu apelido, Frei Chico) e com as mulheres com as quais ele construiu a sua vida –, com a marcante geração da classe trabalhadora do pós-guerra, seus companheiros operários qualificados e sindicalistas, com os quais ele aprendeu enquanto começava a fazer política.

TM – O que a obra traz de novo além do que o leitor já conhece sobre Lula?

John French – Esta biografia oferece novas visões, baseadas em fontes até agora não utilizadas, incluindo agências de inteligência, sobre as ações extraordinárias dos metalúrgicos dos municípios de São Paulo conhecidos conjuntamente como ABC Paulista e de seus sindicatos durante a década de 1970. Diferentemente de outros que discutiram a vida do presidente Lula, eu abordo a questão analítica essencial de como uma insurgência massiva de trabalhadores emergiu na indústria metalúrgica do ABC. Eu argumento que a relação de Lula com os metalúrgicos da base, forjada durante seus cinco anos como presidente do Sindicato, explica como ele veio a ser conhecido e respeitado em todo o mundo.

TM –  O que de mais interessante e surpreendente você descobriu?

John French – Eu argumento que seu estilo e prática de liderança singular e duradoura e o discurso a eles associado já estavam cristalizados em 1978, o ano das primeiras greves, e continuariam inalterados pelas quatro décadas subsequentes. Aqui estava um líder aberto ao diálogo, mas mais do que disposto a levantar e lutar quando necessário, que praticava uma política da astúcia cumulativa e transformadora, realizada por meio da criação de espaços de convergência que atravessam as diferenças.

Famílias no Sindicato

Também no sábado será realizado o primeiro dia com as famílias no Sindicato, atividade do projeto Engrenagem Cultural, organizada pelo Coletivo de Cultura do Sindicato e da Comissão de Igualdade Racial e Combate ao Racismo dos Metalúrgicos do ABC.