“Hoje todo pobre se acha classe média, a classe média se acha elite e a elite fica invisível, e é o que ela quer”
Sociólogo Jessé Souza participou da Direção Plena dos Metalúrgicos do ABC ontem na Sede e divulgou seu novo livro “O pobre de direita – a vingança dos bastardos”
Ao divulgar seu novo livro “O pobre de direita – a vingança dos bastardos” (Ed. Civilização Brasileira) ontem durante reunião da Diretoria Plena na Sede do Sindicato, em São Bernardo, o sociólogo Jessé Souza questionou dirigentes e convidados: “Por que as pessoas que antes votaram em uníssono por um governo que estava conseguindo mais direitos, aumentando a renda e industrializando o país passaram a eleger partidos contrários aos que defendem as pautas da classe trabalhadora?”.
Para a resposta, Jessé disse que analisou alguns pontos. “Primeiro, as pessoas pensam que são classe média, isso devido a má propaganda do PT (Partido dos Trabalhadores) em 2014. Você não pode deixar um marqueteiro definir suas metas. Hoje todo pobre se acha classe média, a classe média se acha elite e a elite fica invisível, e é o que ela quer. Para a elite é ótimo porque é o principal dispositivo de poder e ninguém vê o que ela faz”, disse.
“A situação do negro pobre também é muito diferente do branco pobre. O branco pobre tem raiva e não entende, mas isso é sobre mapa racial. E pensa: ‘sou branco, tenho sobrenome italiano, alemão, mas tenho um emprego precário, ganho pouco e mal vejo a minha família. O que houve de errado?’, questiona. Fica com raiva e, neste momento, se identifica nas figuras da extrema direita, da mesma forma que o pobre nordestino se identifica com o Lula”, continuou Jessé.
“O branco não tem que provar que é gente. O negro tem que provar. Em uma sociedade como a nossa o negro sofre a cada segundo a ameaça de desumanização. Os negros foram jogados nessa situação e perseguidos. Qualquer governo que tentou incluir negro e pobre nesse país foi apeado do poder com um golpe de Estado, sem ter nada a ver com corrupção”, prosseguiu.
Imprensa penal
Jessé contou que entre 2015 e 2016, o pobre branco, por exemplo, estava com 70% de aumento real do salário, com condições de colocar o filho em uma boa escola, sonhando com um futuro alternativo e, a partir do golpe, todo esse poder de compra voltou para os bancos. O povo ficou mais pobre e ninguém explicou o que realmente estava por trás dos fatos.
“O povo brasileiro ficou com uma carência por explicação. E quem é que vai dar? A imprensa penal e canalha ao publicar que o PT é culpado, construindo um ódio popular ao Partido dos Trabalhadores. Por outro lado, temos um trabalho mal feito na esquerda brasileira. Ou a gente vai ter consciência disso, refletir e mudar ou isso aqui vai virar um país fundamentalista, de religiosidade evangélica, de repressão, opressivo e autoritário”.
“Todas as vezes que as pessoas, inadvertidamente, pelo sufrágio universal, elegem algum líder popular, a elite tem que usar a sua imprensa que está no bolso para imbecilizar o povo e ocupar o poder de Estado para roubar e criminalizar o voto do preto e do pobre”.
Debate
O presidente do Sindicato, Moisés Selerges, celebrou o encontro como um momento crucial para toda a direção se unir em um debate rico e construtivo. “A vinda do Jessé enriquece sobremaneira o debate sobre a conjuntura em que vivemos. Para qualquer análise que se faça, todos os caminhos levam à seguinte conclusão: estamos sendo vítimas de 300 anos de escravidão no nosso país”.