Homenagem a Osvaldo Cavignato: Dieese elabora biografia

(Foto: Adonis Guerra)

Nascido em 28 de maio de 1945, em Duartina, São Paulo. Aprendiz de ajustador mecânico formado pelo Senai, em Piracicaba, metalúrgico no ABC de 1958 até 1975, ferramenteiro na Volks, economista.  É assim que podemos começar a contar um pouco da história política e profissional de alguém bem conhecido aqui desta Casa: Osvaldo Rodrigues Cavignato – o nosso Osvaldinho.

Ainda estudante secundário, ele já participava de movimentos sociais de resistência à Ditadura Militar. No início da década de 70 filiou-se ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, hoje Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Em 1974, colaborou com a realização do 1º Congresso da Categoria, quando conhece o então diretor da entidade, Luis Inácio Lula da Silva.

Mais tarde, ainda estudante de economia, é convidado a realizar um trabalho para o Sindicato, encomendado por conta de uma viagem de Lula, que se tornara presidente da entidade em 1975. Após esse trabalho é chamado por Lula a montar um departamento de estudos econômicos no Sindicato. É contratado em agosto de 1975.

Dias depois de começar suas atividades, em 6 de outubro, é preso pela Ditadura na própria sede do Sindicato, devido à sua atuação no movimento estudantil e por integrar os quadros do Partido Comunista. É levado para o DOI-CODI, órgão máximo da repressão, onde dias depois o jornalista Vladimir Herzog era morto sob tortura. Fica 78 dias preso, sendo torturado sistematicamente. É solto em dezembro de 1975 e processado na Justiça Militar por seu vínculo partidário.

Com a prisão, perde um ano de faculdade e deixa o Sindicato. Em 1977 forma-se em economia pela Fundação Santo André.

Em 1979, novamente convidado por Lula, retorna ao Sindicato. Propõe à entidade que seja contratado por meio do Dieese, Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. O objetivo, segundo suas próprias palavras era poder “incorporar o know-how da instituição, os conhecimentos teóricos, científicos, treinamento e trazer tudo isso pra dentro do Sindicato”. 

Talvez sem ter dimensão da importância do que fazia naquele momento, Osvaldinho começava ali um processo que marcaria fortemente, não só a história deste Sindicato, como também a da Instituição Dieese e de grande parte do Movimento Sindical. Dava-se início, naquele momento, à criação da primeira subseção do Dieese dentro de uma entidade sindical – aqui nos Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, projeto pioneiro, que, mais tarde viria a se expandir para muitas outras entidades sindicais.

O início do trabalho na subseção, no entanto, ainda teria de esperar um pouco. Em meados de 1980 ocorre nova intervenção do Ministério do Trabalho no Sindicato – a segunda após o estabelecimento do Regime Militar. Toda diretoria é cassada. Durante a intervenção, Osvaldinho passa a atuar no Escritório Nacional do Dieese, assessorando outras entidades sindicais. Nesse período participa das negociações salariais no Sindicato dos Vidreiros de São Paulo e assume a tarefa de montar outra subseção do Dieese, desta vez no Sindicato dos Bancários de São Paulo.

Em 1981, passada a intervenção, Osvaldinho assume a Coordenação da Subseção do Dieese nos Metalúrgicos do ABC. Com apenas uma mesa, calculadora, caneta e papel, Osvaldinho iniciava um trabalho que, com certeza, foi fundamental para que o nosso Sindicato seja hoje o que ele é.

Com formação econômica e técnica, aliada à sua experiência no chão de fábrica, ele inaugurava um novo olhar sobre a categoria e, em especial, sobre as transformações que estavam acontecendo nas fábricas naquele momento. Um olhar sobre a tecnologia e seus impactos no mundo do trabalho e sobre as perspectivas que se abriam a partir dali. Novas profissões estavam surgindo naquele ambiente e Osvaldinho estava atento àquelas mudanças, que, mais tarde, originariam uma importante discussão sobre cargos e salários.

A subseção do Dieese passava a ter uma atuação para além do acompanhamento dos índices de inflação e perda salarial. Sob a coordenação de Osvaldinho, ela dava conta de uma complexidade de assuntos como, por exemplo, a composição de preços dos veículos, que desembocou no trabalho de mapeamento das Comissões de Fábrica sobre a produção. Ele costumava dizer que o trabalho do Dieese é, sobretudo, um trabalho político. Era necessário preparar as Comissões de Fábrica para fazerem seu trabalho.

Ao longo dos 30 anos em que esteve à frente da subseção, Osvaldinho formou pessoas, compartilhou seu conhecimento, ensinou e aprendeu conosco. Com dedicação e, acima de tudo, comprometimento, teve o papel fundamental de dar a retaguarda política a todas as direções que passaram pelo Sindicato, ajudando os dirigentes a entender e atuar de forma concreta na economia da região e do País e a preparar a categoria para os imensos desafios que se colocavam a cada dia.

De forma brilhante, coordenou equipes que se tornaram o apoio e referência da direção na elaboração dos projetos do Sindicato e na participação de nossa entidade nas grandes discussões nacionais em defesa dos trabalhadores. As negociações na Câmara Setorial da Indústria Automotiva, que surtiu bons resultados para o setor e projetaram o Sindicato em todo Brasil, as discussões para implementação da Participação nos Lucros e Resultados (PLR), a criação da pesquisa Holerite às Compras e, principalmente, o acompanhamento de todo processo de reestruturação produtiva vivido na década de 90 são bons exemplos. Batalhas que travamos naqueles tempos e cujos frutos ainda influenciam nosso presente.

Agora, depois de contar um pouco da sua linda história, quero me dirigir diretamente a você, Osvaldinho. Após esse relato, é fácil entender por que, hoje, quando comemoramos o aniversário de 58 anos do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, homenageamos você com a entrega do prêmio João Ferrador.

Fazemos essa homenagem porque a sua história, querido amigo e companheiro, se confunde com a nossa. Fazemos essa homenagem também aos seus filhos Fred, Simone, Deise e Débora, e aos seus netos. Porque, com certeza, a capacidade do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC de negociar, de formular política, de perceber as transformações da categoria e de toda sociedade, de atuar de forma cidadã e combativa nos mais adversos cenários, não seria a mesma sem você.

Fazemos essa homenagem porque nós somos gratos e nos sentimos honrados em ter podido contar com sua experiência, seu empenho, seu carinho ao longo de tantos anos.

E, acima de tudo, porque nós amamos você!

Da Redação