IBGE: crise gerou perdas na indústria brasileira em 2009
A crise econômica global não foi tão sentida por setores como a construção e o comércio, mas prejudicou a indústria brasileira em 2009, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os resultados do setor ficaram abaixo dos alcançados em 2008, de acordo com os dados das Pesquisas Industriais Anuais – Empresa e Produto, divulgadas hoje.
O total das receitas brutas das 299 mil empresas industriais em funcionamento no País em 2009 foi de R$ 2,3 trilhões, valor inferior ao observado em 2008, quando atingiu R$ 2,4 trilhões. Houve ainda uma redução na receita líquida de vendas, que passou de R$ 1,76 trilhão em 2008 para R$ 1,67 trilhão em 2009.
Segundo Flávio Magheli, pesquisador do IBGE, embora tenha mostrado recuperação ao longo do ano, o resultado do primeiro semestre de 2009 na indústria brasileira foi bastante fraco, refletindo a retração da economia mundial no final de 2008. A diminuição da demanda por manufaturados e a queda nos preços das commodities afetaram a produção local, sobretudo da indústria de bens de capital e de bens intermediários. “Diante das incertezas e da falta de confiança, as indústrias optaram por cortes de custos, redução do volume da produção e adiamento de projetos”, explicou Magheli.
As maiores perdas de participação na receita bruta foram nos ramos de metalurgia; fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis; extração de minerais metálicos; fabricação de máquinas e equipamentos; e fabricação de produtos químicos. “A receita dessas atividades continuou alta, mas perdeu espaço no montante total para a indústria de bens de consumo, como alimentos, têxteis e calçados”, afirmou Magheli.
O pesquisador salienta que as indústrias com foco de atuação no mercado interno tiveram boa atuação em 2009. “Aqueles estados que têm entre as primeiras atividades a fabricação de alimentos, bebidas e couro se destacaram, aumentaram sua participação da receita total”, disse.
As cinco atividades industriais com maior participação no total das receitas brutas das empresas industriais, cerca de 56,1% do montante geral, foram: fabricação de produtos alimentícios; fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias; fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis; e fabricação de produtos químicos; e metalurgia.
Em 2009, os investimentos no ativo imobilizado, como máquinas, equipamentos e terrenos, somaram R$ 132,6 bilhões, menos do que os R$ 137,8 bilhões gastos em 2008. Já o total dos custos e despesas das empresas industriais em 2009 ficou em R$ 1,7 trilhão, inferior ao registrado no ano anterior, de R$ 1,8 trilhão, influenciado pelo menor volume de produção vendido.
O Valor da Transformação Industrial (VTI), a diferença entre o valor bruto da produção industrial e os custos das operações industriais, passou de R$ 724,3 bilhões em 2008 para R$ 679,4 bilhões em 2009. Os gastos com pessoal foram de R$ 240,4 bilhões e custos diretos da produção, de R$ 125,7 bilhões.
Entre as regiões, o Norte e o Sudeste tiveram perda de participação na receita líquida de vendas, valor da transformação industrial e gastos com pessoal. Enquanto isso, as regiões Nordeste e Centro-Oeste, com produção predominantemente voltada para o mercado interno, tiveram ganhos nas mesmas variáveis e também no pessoal ocupado. “O Norte é intensivo em tecnologia, enquanto o Sudeste tem o parque industrial muito diversificado”, explicou o pesquisador do IBGE.
A fabricação de produtos alimentícios teve na região Centro-Oeste a sua participação relativa mais elevada (44,2% do total do VTI na região), graças à expansão da fronteira agrícola e das agroindústrias processadoras de soja e frigoríficos.
No ranking dos dez produtos industriais que mais se destacaram em 2009, em termos de valor de vendas, o item óleo diesel manteve a liderança do ano anterior: as vendas somaram R$ 48,7 bilhões, 3,6% do montante total. O item cervejas ou chope saltou da 13ª posição em 2008 para a 8ª em 2009, enquanto o item tortas, bagaços, farelos e outros resíduos da extração do óleo de soja passou de 12º para 10º lugar.
Da Agência Estado