Iconografias metropolitanas

Foi inaugurada recentemente no Parque Ibirapuera, a 25ª Bienal de São Paulo. A mostra foi organizada em torno de um grande tema, Iconografias Metropolitanas, reunindo obras de 190 artistas de 70 países. Nos três pavimentos do Pavilhão da Bienal, o visitante é convidado a apreciar e a interagir com os mais diversos tipos de criação artística – pinturas, esculturas, fotos, vídeos, instalações – que recriam imagens e cenas inspiradas na realidade de 11 metrópoles: São Paulo, Caracas, Nova York, Londres, Berlim, Moscou, Johannesburgo, Istambul, Pequim, Tóquio e Sydney. Um espaço especial é dedicado à representação da cidade utópica do Século XXI.

São necessárias umas quatro horas para ver esse conjunto de obras. É uma verdadeira maratona e pode parecer, de cara, um programa chato para quem não tem algo mais interessante para fazer no final de semana. Mas pode ser também uma divertida incursão pelo universo da arte contemporânea, onde você admira imagens incrivelmente belas; pára em frente de cenas chocantes de ruínas de Cabul e de vilarejos destruídos pela guerra no Afeganistão; vê sua sombra se projetar em cortinas transparentes, tornando-se parte do cotidiano de uma distante Pequim; compartilha o senso crítico do artista chinês que levou o povo brasileiro para o espaço onde deveria ter voz, instalando uma favela no interior da Câmara Federal; identifica Picasso entre os transeuntes de uma rua numa cidade do Congo, ao lado do pintor que imaginou a cena; observa intrigado o grupo de mulheres seminuas, fotografadas por Vanessa Beecroft em tamanho natural e transformadas em esfinges contemprâneas, cujo olhar parece perscrutar os segredos do tempo…

Entre as diversas obras concentradas no terceiro pavimento, o visitante tem a oportunidade de ver, mais uma vez, como a arte se encontra com a história. Trata-se, agora, da nossa própria história, num de seus períodos mais sombrios. Numa das instalações mais críticas desta versão da Bienal, um jovem artista paraibano, José Rufino, utiliza escrivaninhas das antigas dependências do DOI-CODI como suporte para sudários de desaparecidos políticos durante a ditadura militar. As cenas são pungentes: sobre o linho, imagens de corpos dilacerados pela tortura misturam-se a fragmentos de cartas e de lembranças de familiares.

Passando de um pavimento para outro, o olhar se perde no horizonte, atravessando as paredes de vidro que separam e integram a Bienal aos jardins do Ibirapuera e à cidade de São Paulo.