Ilegalidade na indústria moveleira prejudica ABCD

Regularização da atividade beneficiaria empreendedores e setor na Região; produtos mais limpos podem contribuir para legalização

A regularização das empresas moveleiras é um dos entraves para o desenvolvimento do setor no ABCD. Atualmente, dos quase 1.000 empreendimentos instalados na Região, cerca de 640 atuam de modo irregular e outros 354 são legalizados. De acordo com os empresários, a aplicação de componentes menos nocivos ao meio ambiente nos materiais utilizados pela indústria pode ajudar os empreendedores informais a legalizar suas atividades.

De acordo com o presidente do SimABC (Sindicato da Indústria de Móveis do ABC), Hermes Soncini, por se tratar de um setor que reúne muitas empresas de pequeno porte, ainda há quem desconheça os benefícios da regulamentação. “São marceneiros que possuem sua infraestrutura na garagem e que estão ilegais. Não queremos que eles fechem as portas e sim trazê-los para nosso lado”, afirma.

Os empresários contam com o diálogo com os empreendedores em situação ilegal para mudar a posição do setor no ranking de empresas poluentes da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) e facilitar a regularização dos empreendimentos. “Estamos mobilizados para renegociar com a Cetesb nossa classificação”, indica Soncini.

A indústria moveleira hoje é classificada como nível 2 em emissão de poluentes, em uma escala que varia do 1, como muito poluente, ao 3, pouco poluente.  Os empresários indicam que já não se utilizam tintas e colas que agridem o meio ambiente, como antigamente. Por isso, é viável pedir a transferência para a classificação nível 3. A mudança ajudaria no processo de regulamentação dos produtores locais, uma vez que a emissão de alvará para indústrias menos poluentes é automática, enquanto que as de nível 2 têm que ter seu projeto previamente avaliado.

A maioria dos empreendimentos do setor moveleiro regional são familiares e de pequeno porte, características que acompanham as principais indústrias moveleiras do Brasil e do mundo. De acordo com relatório de 2008, realizado pela ABDI (Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial), em parceria com a Unicamp, existem no País mais de 18 mil empresas fabricantes de móveis, 74% microempresas e 24% de pequeno porte, somando um total de 98% de empresas com menos de 100 funcionários.

Design
Um mercado potencial que passou a ser valorizado pelas indústrias moveleiras da Região que pretendem expandir os negócios é o da população de baixa renda, classe média e média baixa. Isso porque programas de inclusão do governo federal, como o Minha Casa, Minha Vida, geraram novas oportunidade de negócios.

O IATDI (Instituto de Ação Tecnológica e Desenvolvimento Inovador), por exemplo, está pesquisando o Imóvel Pop para os produtores da Região. “Vamos estimular a produção de móveis populares, com maior qualidade, menor custo e que atendam às especificações do programa Minha Casa, Minha Vida”, afirma a pesquisadora do instituto, Silvana Pompermayer.

Outro exemplo de inovação em design é o da fábrica Olloto, incubada na Iesbec (Incubadora de Empresas de São Bernardo do Campo), que conseguiu o primeiro lugar no Concurso de Design de Produtos Moveleiros, realizado em 2008 pelo Senai e Sebrae. O empreendedor Olívio Lotto aprendeu o oficio da marcenaria com o pai e sobrevive da microempresa. “O foco da minha empresa é a inovação em móveis projetados”, afirma. O mais novo produto lançado pela empresa é a cama automatizada, que embute um aparelho televisor.

Solução
O setor moveleiro do ABCD sucumbiu na década de 1980 diante da inflação e de outros polos moveleiros. Agora a atividade, busca a rearticulação, com ações de ampliação do mercado consumidor, renovação de produtos, formação e regulamentação. A nova situação não é apenas reflexo do momento econômico, mas da movimentação de sindicatos, prefeituras e serviços de apoio ao empresariado.

O cenário ainda não é o ideal, afirma o presidente do Sintracom (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil e Mobiliário de São Bernardo e Diadema), Claudeonor Neves da Silva. “O setor foi abandonado e há alguns anos buscamos provocar o empresariado no sentido de acordá-lo para a necessidade renovação. Alguns já estão trabalhando, mas ainda não alcançamos uma adesão total”, explica.

A recuperação começou após o fortalecimento do diálogo com a indústria paulistana, para a composição da Movelaria Metropolitana, hoje o maior centro produtor de móveis do País.
A partir de 1999, o Sebrae e sindicatos patronais passaram a trabalhar com empresários ações pontuais. Em 2004, criou-se o APL (Arranjo Produtivo Local) de Móveis da Região Metropolitana. Em paralelo, firmou-se uma parceria com a Prefeitura de São Bernardo e a Câmara Regional, para a implantação do programa para o aumento da competitividade do setor.

O empresário Carlos Alberto Gómez, proprietário da Almudena, Indústria de Móveis de Diadema, participa do APL. “Com uma empresa de 35 funcionários, tenho capacidade limitada e antes do grupo eu negava muitos projetos por falta de estrutura. Hoje, cerca de 15% das nossas obras são feitas com parceiros do APL. Além de aceitar contratos maiores, não deixo de atender por falta de capacidado”. Para o SimABC, o APL ajudou os empresários da Região a fortalecerem seus negócios.

Do ABCD Maior