Indústria brasileira apresenta seis meses seguidos de queda

“Enfrentamos um momento de total ausência de política industrial e desmonte do Estado, inclusive de mecanismos como o BNDES, que seria o banco para desenvolver a indústria no Brasil”

Foto: divulgação

A indústria brasileira chegou a novembro passado com seis meses de quedas na produção, marcando uma redução de 20% desde 2011, apontam dados do IED (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial). 

O estudo divulgado no início deste ano detalha ainda que, no período abordado, a produção industrial estava sob os efeitos da crise causada pela Covid-19, porém esclarece que as dificuldades no setor são anteriores à pandemia.

De acordo com o levantamento, houve uma ligeira recuperação no segundo semestre de 2020 que chegou a superar o nível anterior a Covid-19. Porém, ao longo de 2021 a retomada diminuiu. Segundo o IBGE, depois de seis meses de quedas consecutivas, a produção industrial operava, em novembro, 20,4% abaixo do pico alcançado em maio de 2011.

Participação no PIB

A participação da indústria de transformação no PIB (Produto Interno Bruto) vem caindo, hoje ela representa uma fatia de apenas 11,3%. Em outubro de 2021, o PIB industrial ainda era 14% menor do que em março de 2014, mostram cálculos com base em estimativas do Monitor do PIB da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Reflexo do desmonte

O diretor executivo dos Metalúrgicos do ABC, presidente da IndustriALL-Brasil e da Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC, Aroaldo Oliveira da Silva, analisou que esse encolhimento da indústria é reflexo direto do desmonte da política industrial brasileira nos últimos anos. 

“Enfrentamos um momento de total ausência de política industrial, desmonte do Estado, desmonte inclusive de mecanismos como o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento) que seria o banco para desenvolver a indústria no Brasil e corte nos investimentos em ciência e tecnologia. O atual governo ultraliberal aposta somente que o mercado vai resolver o problema, por isso não articula os investimentos necessários”. 

Na contramão do mundo 

Em 2021, o Brasil ficou na 57ª posição no ranking global dos países que investem em inovação, atrás de países como México, Chile, Malásia, Filipinas, Índia e Vietnã. Para o dirigente isso demonstra, claramente, que o Brasil segue no sentido contrário. “O mundo está se reorganizando, as principais nações estão fazendo política industrial, enquanto no Brasil estamos muito aquém disso. No momento em que outros países estão desenvolvendo tecnologia, o Brasil, ao contrário, está cortando o investimento básico em ciência, tecnologia e inovação”.

Crise dos semicondutores 

Aroaldo reforçou que os danos foram ainda maiores com a pandemia, período em que o Brasil ficou refém de outros países, e citou como exemplo os insumos médicos e hospitalares. 

Outro reflexo claro, lembrou, é a falta de semicondutores. “O mundo todo está discutindo como produzir nacionalmente. Enquanto isso no Brasil o governo anunciou o fechamento da empresa pública Ceitec (Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada) que produzia semicondutores”. 

“Estamos na contramão do mundo, o governo não está discutindo o setor da economia que é o mais sustentável, que tem uma cadeia grande e desdobra para outros setores e cria empregos mais estáveis e com renda maior. Temos debatido esse tema há alguns anos e em 2022 seguiremos na luta para cobrar políticas que possibilitem a recuperação da nossa indústria”.