Indústria dá sinais de recuperação
Mercado interno impulsiona fábricas e a produção começa a indicar que o pior da crise pode ter ficado para trás
A indústria brasileira começa a dar sinais de recuperação no primeiro trimestre deste ano, após queda generalizada nos pedidos recebidos em dezembro. Um mapeamento feito com base na Sondagem da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revela que a retomada da demanda está concentrada na produção de bens cujo consumo depende da renda do trabalhador, como alimentos, e da indústria automobilística, que teve o corte de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) renovado.
Em dezembro, no ápice da crise, todos os 14 setores pesquisados pelo estudo feito a pedido do Estado registraram queda na demanda global em relação a setembro. A demanda global inclui os pedidos para mercado interno e externo. Já em março, sete setores saíram do terreno negativo na demanda global na comparação com dezembro, observa o responsável pela área técnica da sondagem, Jorge Ferreira Braga.
A indústria automobilística, de móveis, de alimentos, têxtil, de vestuário e calçados, de celulose, papel e papelão e de produtos de matérias plásticas, as duas últimas fornecedoras de embalagens para o setor de alimentos, reagiram no primeiro trimestre, aponta a sondagem. A pesquisa consultou 1.066 empresas que, juntas, faturaram no ano passado R$ 540 bilhões. Em março foram vendidos 271,4 mil veículos no País, 16,9% a mais que em igual mês de 2008. Após dois meses de queda, a indústria de motocicletas também apresenta leve recuperação. Em março foram fabricadas 126.295 unidades, 54,9% a mais do que no mês anterior. O volume é 31,7% inferior ao de março de 2008, mas representa um sinal de que o pior da crise começa a ficar para trás.
“O mercado interno está segurando a queda”, afirma Sérgio Amoroso, presidente do Grupo Orsa, uma das grandes companhias do setor de celulose, papel e papelão para embalagens. Ele conta que, entre dezembro e fevereiro, a sua empresa registrou quedas superiores 10% na demanda doméstica na comparação com os mesmos meses do ano anterior.
Em março, a queda na demanda doméstica de embalagens produzida pela empresa ficou em 7,5% em relação a março de 2008. “Com 7,5% de queda dá para viver”, diz o empresário, que projeta recuo de 5% para abril na comparação anual. Amoroso frisa que ainda é cedo para afirmar que há uma recuperação. No mercado externo o empresário diz que houve pequena melhora na demanda por celulose, puxada pela China. Mas os estoques mundiais de celulose ainda são altos e os preços não cobrem os custos.
“O mercado não está hoje tão recessivo quanto pensávamos”, afirma o presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), José Luiz Diaz Fernandez . Ele conta que o setor projetava queda de 50% na demanda neste primeiro trimestre. Apesar de não ter os números fechados, ele diz que o recuo foi menor.
“Fizemos duas feiras e cortamos as margens de lucro. Com isso, as lojas estão comprando, mas o volume é menor em relação ao do ano passado”, pondera o presidente da Abimóvel.
Os alimentos são um caso à parte entre os setores analisados pela sondagem. Braga, da FGV, diz que o indicador de demanda global da indústria de alimentos em março ficou acima da média dos últimos 14 anos. “Trata-se de um item que é imune à crise porque não depende de crédito para ser comprado”, explica o economista. Além disso, a inflação em baixa joga a favor das vendas de comida.
Já os setores “lanterninhas” na recuperação no primeiro trimestre são aqueles cujas vendas dependem crédito, estão ligadas à exportação ou a investimentos, observa o economista da FGV. Nesse rol estão a metalurgia, a indústria química, mecânica, de minerais não metálicos, material elétrico e de comunicação, entre outros. Braga observa que, em março, o nível de demanda global desses setores ficou bem abaixo da média dos últimos 14 anos.
Na siderurgia a produção de aço bruto em fevereiro cresceu 2,3% ante janeiro, segundo dados do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). Mas, quando se leva em conta o primeiro bimestre de 2009 em relação ao mesmo período de 2008, a queda foi de 42,4%. “Estamos vendo uma luz no fundo do túnel, mas a recuperação é mínima”, diz o vice-presidente executivo do IBS, Marco Polo de Mello Lopes.
Do O Estado de S. Paulo