Indústria de autopeças vê momento otimista em meio à crise
Feira em SP reúne poucos expositores, mas tem clima de 'retomada'. Mercado de reposição está no foco das fabricantes de peças
Impactadas pela crise que afeta as montadoras de todo o mundo, as empresas de autopeças refletem seu “abalado humor” na principal feira de negócios do setor no Brasil, a Automec. Grandes empresas como Delphi, Dana, FTP, Magneti Marelli e ZF decidiram não participar do evento que começou nesta terça-feira (14) e vai até sábado (18), entretanto, quem investiu na exposição no Anhembi, em São Paulo, começa a falar em “otimismo” sobre as vendas para este ano. A aposta de empresas como a Bosch, Saint-Gobain Sekurit e BorgWarner está no mercado de reposição, ou seja, na manutenção do veículo.
“O primeiro trimestre de 2009 foi muito positivo para o mercado de reposição. Com a queda das vendas de veículos usados e a inspeção veicular, a procura pelo mercado de reposição cresceu”, afirma o vice-presidente da divisão de aftermarket da Bosch América Latina, Ruediger Saur. Segundo ele, a empresa espera para este ano expansão entre 7% e 8% das vendas dos distribuidores para o consumidor final.
Entre os expositores da Automec, a Bosch traz como principal preocupação no segmento de reposição no país a qualificação das oficinas. “O carro se transforma cada vez mais em um computador sobre rodas por causa do aumento dos componentes eletrônicos, assim a estratégia da Bosch no mercado de reposição é investir em qualificação profissional, equipamentos para as oficinas e informações para diagnose”, observa Saur.
Também concentrada no mercado de reposição, porém mais preocupada com os produtos remanufaturados (recuperação de peças), a fabricante de turbos BorgWarner mostra na feira a expectativa da ampliação de atuação no país por meio do segmento de caminhões. “O frotista não troca caminhão com a mesma velocidade que o consumidor de automóveis troca o seu carro. Então, ele recorre ao mercado de reposição”, diz o diretor mundial de aftermarket da BorgWarner, Sérgio Veinert.
“No primeiro trimestre deste ano entre 31% e 32% do nosso faturamento na América do Sul foi com o mercado de reposição de turbos. No Brasil, a participação da reposição no nosso negócio é de 32%. O Brasil se ficar nisso está muito bom”, ressalta Veinert. Segundo o executivo, o faturamento líquido da BorgWarner em 2008 no Brasil foi de R$ 209 milhões. Para este ano, a previsão é de redução, entretanto, ficará entre R$ 150 milhões e R$ 160 milhões.
Recuperação
Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirma que “50% do resultado da crise é um pouco de pânico que tomou conta da sociedade”, as empresas de autopeças instaladas no País correm para garantir espaço no mercado externo de reposição. A fabricante de vidros automotivos Saint-Gobain Sekurit decidiu reduzir as exportações quase a zero para conseguir atender a demanda interna das montadoras até meados de 2008. Para atender os pedidos, no ano passado a empresa expandiu as instalações da unidade de Mauá (ABC paulista), com duas novas linhas de vidros temperados e laminados. Agora, a redução de volume das montadoras “forçou” a empresa a reconquistar os clientes estrangeiros.
“Estamos com retomada de exportação para a Bélgica, França, Espanha, Estados Unidos, Alemanha e África do Sul. Não é fácil porque os espaços foram ocupados, mas estamos brigando”, afirma o diretor geral da Saint-Gobain Sekurit, Manuel Corrêa. “Concorremos pela nossa qualidade, porque o Brasil já não tem mais mão-de-obra barata para garantir preços mais competitivos” observa Corrêa.
No caso do aftermarket em outros países, o foco das autopeças está na Europa. De acordo com Sérgio Veinert , da BorgWarner, a demanda europeia é maior devido ao tamanho da frota e, no caso dos turbos, à grande aplicação de motores a diesel em veículos de passeio. A Saint-Gobain Sekurit também retoma as vendas pela Europa. Manuel Corrêa diz que a empresa tem um projeto de contrato de dois anos com o Grupo Berlon International, que possui a marca de reparação de vidros Carglass.
Embora as perspectivas sejam positivas, a retomada de negócios será lenta. O Grupo Bosch, por exemplo, investirá no Brasil R$ 60 milhões neste ano, contra R$ 90 milhões no ano passado. “Adaptamos os investimentos para o cenário de crise mundial. O mercado internacional está muito prejudicado”, observa Saur, que inclui no montante todas as divisões do grupo (tecnologia automotiva, tecnologia industrial e bens de consumo).
Mesmo assim, todas se preparam para a retomada da produção ds montadoras nacionais e, para isso, será preciso fôlego para atender a demanda de todos, sem perder clientes. “Será burrice deixar de lado a reposição, quando os bons tempos das montadoras voltarem. A gente tem que tomar as decisões olhando para frente”, avalia Veinert.
Do G1