Indústria deve puxar alta do PIB no 2º trimestre, projetam analistas
Apesar de a indústria responder por 28% do PIB e os serviços terem maior peso (65%), é a produção das fábricas que dará o tom do crescimento dos próximos meses. Isso porque a indústria foi o setor que mais sentiu o tranco da crise a partir do fim do ano passado
A retração da economia brasileira ocorrida nos últimos dois trimestres e que caracteriza uma recessão técnica pode já ter ficado para trás. Entre abril e junho, consultorias privadas estimam que o Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer entre 1% e 2,5% sobre o período anterior, puxado especialmente pela produção industrial.
Apesar de a indústria responder por 28% do PIB e os serviços terem maior peso (65%), é a produção das fábricas que dará o tom do crescimento dos próximos meses. Isso porque a indústria foi o setor que mais sentiu o tranco da crise a partir do fim do ano passado.
Para o economista-chefe do ING Bank, Zeina Latif, a indústria continuará a trajetória de recuperação apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre janeiro e março, a indústria cresceu 4,8%, descontados os efeitos típicos dessa época do ano.
“Se a indústria tiver crescido 2% em abril, fechará o primeiro quadrimestre com alta de 7%”, calcula o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, que faz uma projeção otimista, porém mais modesta que o ING Bank para produção de abril. Ele pondera que esse crescimento ainda será insuficiente para recuperar a queda de 20% na produção industrial acumulada no último trimestre do ano passado.
“A volta da produção industrial ao nível pré-crise deve ocorrer no último trimestre deste ano”, prevê Borges. Ele argumenta que os segmentos de bens de capital e o de bens intermediários, que juntos respondem por 60% da produção industrial, enfrentam hoje forte retração na produção e emperram o ritmo de crescimento da indústria em geral.
A produção de aço, por exemplo, teve queda de 40% no primeiro quadrimestre deste ano em relação a igual período de 2008, segundo dados do Instituto Brasileiro de Siderurgia. No caso dos bens de capital, o faturamento real caiu quase 25% no primeiro quadrimestre comparado a igual período de 2008, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos.
O diretor da RC Consultores, Fabio Silveira, projeta queda de 15% na produção de bens de capital neste ano. “Há um crescimento desigual entre os diferentes segmentos da indústria.” Ele acredita que a recuperação dos bens de consumo, puxada por medidas como o corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre carros e eletrodomésticos, não será suficiente para compensar as perdas da produção de bens de capital e intermediários. Para ele, a produção da indústria como um todo deve fechar o ano com queda de 3,5% e voltar ao nível pré-crise só em 2010.
Apesar de a produção de bens intermediários e de bens de capital continuar no terreno negativo, o cenário para os bens de consumo é favorável. Borges, da LCA, observa que as vendas dessazonalizadas do comércio varejista já retomaram em março o nível de setembro de 2008. Além do corte no IPI, Borges diz que mudanças qualitativas na confiança do consumidor jogaram a favor desse segmento.
Do O Estado de S. Paulo