Indústria e sindicatos buscam pacto

Fiesp e centrais negociam pacto pró-indústria

Empresários e sindicalistas querem reeditar a ideia de construir um “pacto setorial”, em nome da indústria nacional. Projeto preparado em conjunto pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical e os dois dos maiores sindicatos do país – o dos metalúrgicos de São Paulo e o dos metalúrgicos do ABC – aponta a necessidade de o Estado exercer “um papel fundamental de estímulo aos agentes produtivos (empresas e trabalhadores”. O projeto, a que o Valor teve acesso, será apresentado em grande seminário na semana que vem e depois encaminhado ao governo federal.

Sustentado pelos presidentes das entidades, o “acordo entre trabalhadores e empresários pelo futuro da produção e do emprego”, como é denominado o projeto, está baseado em uma série de concessões do setor público ao setor privado, tendo como contrapartida o emprego. Por entenderem, no entanto, que se trata de “reequilibrar” a indústria perante os produtores de commodities, empresários e sindicalistas não falam em concessões.

O projeto prevê desde a redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) (hoje em 6% ao ano e portanto já inferior à inflação), praticada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), até a criação do “Banco de Desenvolvimento” para financiar micro e pequenas empresas. Ao BNDES também é demandada “atuação mais decisiva” na demanda por títulos emitidos pelas empresas, como debêntures. 

Embora seja assinado por cinco entidades, o projeto deixa perceptível a incorporação das agendas, especialmente na área tributária. Há desde a proposta de ampliar “imediatamente” o limite de faturamento das empresas enquadradas no Simples para R$ 3,6 milhões, e a criação de uma regra de correção automática deste valor, bandeira da Fiesp, até a isenção do Imposto de Renda sobre Pessoa Física (IRPF) sobre a renda auferida pelos trabalhadores como Participação sobre Lucros e Resultados (PLR), oriunda das centrais.

As entidades defendem também a isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para as empresas que adquirirem bens de capital. Além disso, o projeto prevê também a apropriação imediata dos créditos de PIS/Cofins e a unificação de ICMS, PIS/Pasep, Cofins e Cide, para formação de um imposto único.

No front trabalhista, formulado pela área técnica dos sindicatos, o projeto prevê não só o estímulo a “negociação coletiva e a representação sindical no local de trabalho”, ponto defendido entusiasticamente pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, como também a ideia de “propiciar condições para a contínua atualização da mão de obra qualificada no chão de fábrica industrial”, bandeira do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Ao todo, os sindicatos representam cerca de 505 mil operários.

Segundo um dos formuladores do projeto, é enorme a disposição da Fiesp para atingir um acordo com sindicalistas. “É uma relação nova”, diz a fonte, “porque muito pouco se construiu com a Fiesp nos últimos anos”. Para ele, as dificuldades enfrentadas pela indústria impulsionaram os empresários a negociar em conjunto. “O país está se desindustrializando, e a única forma de chamarmos a atenção do governo, que se mostra preocupado com aumento dos empregos e dos salários, é trabalhando junto”, raciocina.

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Do Valor Econômico