Indústria foi setor que mais contribuiu para retração do emprego
Conjuntura: No primeiro quadrimestre, foram fechadas 147.178 vagas industriais com carteira assinada
A indústria, que responde por aproximadamente 26% da mão de obra empregada no País, foi a principal responsável pela queda no nível do emprego a partir de setembro e pelo fechamento de 147.178 postos de trabalho com carteira assinada no primeiro quadrimestre deste ano, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Apenas em abril, o segmento apresentou geração líquida de empregos, com saldo de 183 novos postos. A recuperação concentrou-se em postos com remuneração de até 1 salário mínimo.
Dos 12 setores da indústria da transformação, apenas três acumularam saldo positivo de contratações: alimentos, com geração líquida de 3.780 vagas, borracha, fumo e couro, com 7.649 vagas, e calçados, com 9.303 vagas. Em abril, além desses setores, a indústria têxtil e do vestuário também gerou 328 postos de trabalho. Em todos os casos, a recuperação começou por vagas com nível salarial mais baixo e, com exceção do setor de borracha, nos demais setores industriais houve preferência pela contratação de profissionais com nível de escolaridade mais alto.
O professor e pesquisador do Cesit da Unicamp, Anselmo Luís dos Santos, observa que, de 2004 a 2008, o mercado de trabalho passou por um crescimento expressivo, mas as ocupações de baixo rendimento, manuais e mais ligadas à prestação de serviços e comércio cresceram abaixo da média, enquanto as ocupações mais ligadas à indústria e que exigiam nível técnico ou superior cresceram a um nível muito mais forte, abrindo oportunidades para ocupações com renda mais elevada.
“As melhores ocupações cresceram mais e estimularam a melhor formação dos trabalhadores. Indiretamente, essa mudança acabou elevando também o padrão de profissionais que ocupam as ocupações de salários mais baixos”, diz. Com a crise externa e o grande volume de demissões a partir de setembro, o número de profissionais desempregados com maior qualificação cresceu e esses profissionais fatalmente ´ganharam a concorrência´ na disputa pelas vagas que ressurgiram, avalia.
Na indústria de alimentos, por exemplo, houve contração de 11.531 pessoas com ensino médio, 581 com ensino superior e 3.585 com ensino fundamental no primeiro quadrimestre do ano. Dos postos fechados no período, houve demissão de 11.917 analfabetos. Em comparação com o primeiro quadrimestre de 2008, a demissão de analfabetos aumentou 26% e para os outros níveis de escolaridade houve geração líquida de empregos, mas em menor escala. Para profissionais com ensino fundamental, o número de novas vagas encolheu 92,9%; para aqueles com ensino médio, a queda foi de 58,6% e para os trabalhadores com ensino superior, queda de 86,8%.
No setor de calçados, houve contratações de trabalhadores de todos os níveis de escolaridade. Porém, o maior volume de contratações foi entre pessoas com ensino médio (7.034 trabalhadores, 21,9% a menos que no primeiro quadrimestre de 2008). Também foram contratados 2.231 trabalhadores com ensino fundamental (74% menos que em 2008), 11 com ensino superior (96,6% menos que no ano anterior).
O setor têxtil, que só apresentou saldo positivo de geração de empregos em abril, concentrou as contratações em trabalhadores com maior escolaridade. Houve contratação de 21.987 profissionais com ensino médio (40,9% menos que em 2008) e 3.481 com ensino superior (13,4% menos que as vagas geradas no ano passado). No mesmo intervalo houve fechamento de 33.069 vagas para o ensino fundamental.
Para o pesquisador do Cesit, a menor contratação de profissionais com ensino superior está ligada diretamente a um processo de reestruturação de cargos gerenciais ocorrida em função da crise e também da valorização cambial, no que se refere ao setor industrial exportador. “Quando o real depreciou no fim do ano, o custo do trabalho em dólar diminuiu e isso eu um certo fôlego às indústrias. Com a valorização recente do real, esse custo voltou a subir. Ajustar a quantidade de salários pagos é uma maneira de reduzir o custo do trabalho mantendo o nível do emprego, o que também é positivo, se se considera que a massa de rendimentos desacelera, mas não há queda”, afirma.
Do Valor Econômico