Indústria naval ganha impulso com encomendas e contrata 75 mil
Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef) movimenta estaleiros para produção de 46 navios e deve abrir 200 mil postos de trabalho até 2014
Termina em março o prazo para que empresas entreguem propostas para a fabricação dos últimos oito navios do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), do Sistema Petrobras. Ao todo, 41 petroleiros já passaram pelo processo de licitação, desde 2004, com investimentos de quase R$ 10 bilhões. Três deles foram entregues em 2010. Outros 11 serão lançados ao mar ainda este ano. Além de promover a indústria naval brasileira, com a exigência de que os estaleiros nacionalizem de 65 a 70% da produção, o programa ainda tem como objetivo preparar a logística de transporte para os campos do pré-sal.
Até agora, mais de 15 mil empregos diretos e 60 mil indiretos foram criados e a perspectiva é de que sejam abertos 200 mil novos postos de trabalho até o final do programa, em 2014. A carteira completa de encomendas do Promef é de 49 navios de grande porte que serão operados pela Transpetro, empresa de logística e transportes subsidiária da Petrobrás.
O presidente da Transpetro, Sérgio Machado afirma que “o cenário da indústria naval já é outro, com uma demanda crescente de encomendas de armadores nacionais e estrangeiros, além de projetos de instalação de novos estaleiros”.
Por enquanto a produção naval brasileira está concentrada em Niterói, no Rio de Janeiro, e no Complexo Portuário de Suape, em Pernambuco. Mas outros polos regionais de construção de petroleiros podem surgir, porque 16 companhias – nacionais e internacionais – foram convidadas para participar do processo de licitação dessa última rodada de encomendas.
O Promef também vai ajudar o governo a economizar R$ 3,4 bilhões por ano, com o afretamento de embarcações junto a armadores estrangeiros. Isso porque a frota nacional possui apenas 52 dos mais de 180 petroleiros que são necessários anualmente para o transporte de gás e petróleo.
Técnicos da Petrobras explicaram que se o Promef não se concretizasse, a frota nacional de petroleiros se reduziria a 20 navios até 2015, em função da idade das embarcações, que têm limite de vida útil entre 25 e 30 anos. Com o programa, a situação se inverte e o Brasil pode chegar a ter em sua frota mais de 110 navios em 2014.
O programa deve impulsionar pesquisas, criando bases tecnológicas e capacitação profissional para o crescimento sustentável do segmento naval. Foi elaborado um plano que envolve parcerias com universidades, centros de pesquisa e de desenvolvimento, além de instituições de capacitação.
Umas das principais referências é o Centro de Excelência em Engenharia Naval e Oceânica (Ceeno), que congrega várias instituições como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), entre outras.
“O Promef, por meio do volume de encomendas, garante escala aos estaleiros para que possam investir em instalações, tecnologia e capacitação profissional. Dessa forma, conseguem alcançar preços e qualidade internacionalmente competitivos”, ressalta Sérgio Machado.
Pré-sal
A exploração de novos reservatórios e o início de produção dos campos do pré-sal abrem perspectivas de aumento de encomendas de embarcações e empregos para a indústria naval brasileira. Como os novos campos petrolíferos se encontram em águas profundas, a mais de 250 quilômetros de distância da costa, serão necessárias novas soluções de transporte de gás e óleo produzidos pelas plataformas.
Além disso, uma das fortes característica da construção naval é a estimulação de grande número de empresas que giram em torno dos estaleiros. A fabricação de cada navio exige a produção de dois a três mil itens, como chapas de aço, tintas e solventes, amarras, tubulações, fios, válvulas e bombas centrífugas. Cerca de 70% dessas peças, chamadas de navipeças, são produzidas no Brasil.
Petroleiro do Promef foi primeira obra do PAC
A construção do navio petroleiro suezmax, batizado de João Cândido e entregue à Transpetro em março do ano passado, foi o primeiro contrato do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Montado em Pernambuco, a embarcação tem 274 metros de comprimento e é capaz de transportar um milhão de barris de petróleo, ou seja, metade da atual produção diária brasileira.
Além disso, foi o primeiro navio petroleiro construído no Brasil a ser entregue em 13 anos. Seis anos após o lançamento do programa, a indústria naval brasileira, que havia desaparecido dos radares, já possui a quarta maior carteira de encomendas de navios petroleiros do mundo.
O segundo lançamento do Promef foi o navio de produtos Celso Furtado, lançado ao mar em junho de 2010, em Niterói. Trata-se de uma embarcação para transporte de derivados claros de petróleo, com capacidade para 48,3 mil toneladas de porte bruto e 182 metros de comprimento.
Também do Rio de Janeiro foi lançado, em novembro de 2010, o terceiro navio do Programa. A embarcação, batizada como Sérgio Buarque de Holanda, é usada para o transporte de derivados claros de petróleo, com capacidade para 48 toneladas de porte bruto e 182 metros de comprimento – o equivalente a dois campos de futebol. O navio de produto atingiu o índice de nacionalização de 68.8%, acima do nível mínimo estabelecido para a primeira fase do Promef, que era de 65%.
História recente da indústria naval brasileira
Documentos do Ministério dos Transportes mostram que na década de 70, a indústria brasileira de construção de grandes navios chegou a ser a segunda colocada no ranking internacional. Em 1979, foram construídos 50 navios, totalizando 1.394.980 toneladas, sendo nove navios para exportação. A indústria tinha, nesse ano, quase 40 mil empregados diretos e 160 mil indiretos.
Em meados dos anos 80, a indústria naval brasileira entrou em declínio. Muitos estaleiros fecharam. O seguimento ficou mais de 20 anos sem receber encomendas. O resultado foi a estagnação tecnológica, o desemprego e o desperdício de bilhões de dólares com o afretamento de navios estrangeiros.
Modelos de embarcações petrolíferas
Suezmax – navio petroleiro para o transporte de óleo cru. A capacidade de carregamento está na faixa de 140 a 175 mil toneladas de porte bruto (TPB).
Aframax – navio petroleiro para transporte de óleo cru. A capacidade de carregamento está na faixa de 80 a 120 mil TPB
Panamax – navio petroleiro para transporte de óleo cru e produtos escuros. A capacidade de carregamento está na faixa de 65 a 80 mil TPB
Navios de Produtos – navio petroleiro para o transporte de produtos derivados de petróleo, como diesel, nafta, gasolina, óleo combustível e querosene de aviação. A capacidade de carregamento está na faixa de 30 a 50 mil TPB
Navio de Bunker – navio de transporte de óleo combustível pesado e/ou óleo diesel. Tem como função abastecer outros navios.
Navio Gaseiros – tipo de embarcação construída para o transporte de gás liquefeito de petróleo. Destinado prioritariamente à navegação de cabotagem.
Navio de Posicionamento Dinâmico (DP) – navio aliviador que possui adicionalmente um grupo de propulsores gerenciados por sistemas computadorizados, que possibilitam manter a posição estacionária em um determinado ponto próximo a unidades flutuantes de produção, armazenamento e descarregamento de petróleo.
Do Em Questão, via SECOM