Indústria para de demitir, mas ainda resiste a contratar
Emprego industrial teve em junho a terceira alta mensal seguida. Mas, o ganho será insuficiente para compensar as 146 mil vagas perdidas de janeiro a março
A indústria parou de demitir e finalmente terminou a maior parte do ajuste provocado pela crise, mas o mercado de trabalho no setor está estagnado. Em junho, o setor industrial registrou o terceiro resultado mensal positivo no emprego, disse o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Mas o ganho será marginal e insuficiente para compensar as 146 mil vagas perdidas de janeiro a março.
“A indústria foi muito atingida pela crise por causa da queda da exportação e do investimento, mas o pior já passou”, disse Lupi. Em abril e maio, foram abertas menos de 1,3 mil vagas na indústria, nível insignificante comparado com as 126 mil abertas em igual período em 2008, quando a economia estava aquecida.
“O quadro ainda é ruim, mas bloqueou a transmissão da crise pela economia, o que não aconteceria se as demissões tivessem continuado”, disse Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda. “As empresas só voltarão a contratar quando perceberem que o crescimento da demanda não é algo fortuito, provocado por antecipação do consumo.”
O mercado de trabalho na indústria não está acompanhando a produção. Após o tombo de 20% no quarto trimestre, a produção industrial cresceu 7,8% em maio, ante dezembro, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo Fábio Romão, economista da LCA Consultores, existe uma defasagem de quatro a seis meses entre os dois dados, mas o processo de contratação está mais lento, enquanto as demissões foram “rápidas e intensas”. “As empresas ficaram muito assustadas. Há uma questão de confiança.”
Para o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, “a contratação vai ser a conta-gotas”. Ele afirmou que as perspectivas de vendas para o segundo semestre são melhores, mas não há segurança para contratar porque persistem dúvidas sobre o ritmo de entrada de importados. O executivo disse, ainda, que incomoda a possibilidade de redução da jornada de 44 para 40 horas semanais. O setor é o segundo maior empregador do País.
“As perspectivas de recuperação do emprego no segundo semestre são concretas, desde que o governo reaja à entrada dos importados”, disse Milton Cardoso, presidente da Associação Brasileira da Indústria Calçadista (Abicalçados). O setor demitiu 42 mil pessoas no quarto trimestre. Ele atribuiu os cortes à concorrência dos importados e à queda das exportações.
Nos fabricantes de eletroeletrônicos, que chegaram a demitir 2.440 pessoas em março, os cortes de vagas caíram para 80 em maio. “A expectativa a partir de agora é de estabilidade, mas não se fala em contratação generalizada”, disse Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Ele informou que alguns setores, como computadores, cujas vendas reagiram bem, podem precisar de funcionários, mas não será o caso de outras empresas.
O desempenho entre os setores está bastante díspar. Segundo Lupi, os segmentos metalúrgico e mecânico devem terminar o semestre com mais demissões que admissões, enquanto as indústrias química, têxtil, e alimentos e bebidas chegam ao meio do ano no azul.
O melhor resultado é do setor de alimentos e bebidas, que sofreu menos na crise. Conforme a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), o nível de emprego no setor caiu 2,2% entre novembro e abril, mas ficou estável em maio. “Voltaremos a contratar no segundo semestre, mas mais devagar, porque é um ano de economia fraca”, disse Denis Ribeiro, diretor de economia da Abia.
Da Agência Estado